O exercício da autonomia pelo paciente nas suas formas propriamente autêntica e de relação -onde amigos, parentes, outros pacientes desempenham papeis importantes na decisão- no tratamento do câncer, não representa um posicionamento fácil para quem enfrenta um diagnóstico tão adverso quanto o do câncer.
Preconceitos, perda de controle, não saber o que esperar, desconforto, dor, náusea e astenia (um cansaço que não cessa com o repouso), não disposição para o trabalho diário, alterações na aparência (perda de cabelo, cicatrizes), sequelas sexuais, dificuldade para engravidar, ansiedade relativa aos tratamentos e seus resultados absorvem os pensamentos dos pacientes.
Estes pontos em ebulição acompanham um paciente em sua primeira consulta oncológica. Por outro lado, o profissional da saúde pode fundamentar a abordagem de seu paciente (ou ainda não, frente as várias segundas, terceiras opiniões tomadas por pacientes e familiares) num paternalismo brando quando procura dar tempo ao paciente para seguir sua nova jornada de vida que pode ser total ou parcialmente vitoriosa, mas também uma derrocada.
Este paternalismo brando implica nos profissionais de saúde estarem com disponibilidade de tempo ou estarem dispostos a dar várias oportunidades a seus pacientes para o exercício pleno de sua autonomia.
Trabalhos bem controlados demonstraram que pacientes conseguem absorver apenas o que lhes é apresentado – por seus médicos – nos primeiros minutos de uma consulta oncológica. Independente do volume de informações recebidas nos momentos seguintes, estas nem sequer são ouvidas. Como exercer autonomia frente a este cenário?
A força do Sim é Sim e do Não é Não no exercício da autonomia revigora-se quando o paternalismo brando estiver presente. São conceitos que não existem um sem o outro.
Interessante que em casos extremos em que os tratamentos oncológicos implicam na perda de membros, glândula mamária, fertilidade, potência sexual, fala, pacientes, muitas vezes, reagem rapidamente no exercício de sua autonomia. Costumam ter respostas onde a doença perde valorização para as sequelas terapêuticas que podem advir. Em oncologia, colocar as palavras em seu pleno peso pode levar os pacientes a se afastarem rapidamente, na procura de uma verdade menos dolorosa.
O modo clássico de atender pacientes – uma boa anamnese, boas decisões na solicitação de exames para estadiamento da moléstia, exercício de paternalismo brando – dando oportunidades aos pacientes -, construir e ser participante ativo da futura jornada do paciente com câncer, sempre representará o estado da arte em medicina oncológica. Inteligência artificial terá sempre um papel secundário na checagem da correção de cada passo desta jornada. A Bioética da Beira do Leito referenda esta postura.
Uma resposta
Escutando uma LIVE, com dois médicos do Rio de Janeiro, que estão atuando no campo diretamente nesse tempo de pandemia, fiquei feliz de saber que estão tendo ações de HUMANIZAÇÃO e que são essas atitudes que estão dando resultado na recuperação de pacientes com covid-19. Seja nos hospitais de Campanha ou não, o cuidado com o portador da doença e sua familia está ocorrendo de forma atenciosa. Importante resaltar outro aspecto citado, narrado pelos próprios médicos, que as equipes de saúde que estão trabalhando para salvar vidas, que apesar das especializações de cada um, todos os profissionais estão sendo escutados e valorizados. Não havendo diferenciação de quem é mais importante. A BIOÉTICA está tomando seu lugar na vida das pessoas. Mais aulas de Humanidades Médicas nas Faculdades de Medicina.