O blog Bioamigo presta homenagem a Adib Domingos Jatene (1929-2014), o médico brasileiro que se tornou mundialmente reconhecido. É público o conhecimento sobre suas atividades plurais como cidadão, cirurgião, professor e funções político-administrativas.
Desejamos destacar a contribuição do Prof. Adib que o tornou um epônimo- alguém que confere seu próprio nome para designar algo, especialmente uma obra sua. É a operação de Jatene, uma técnica de correção anatômica em casos de Transposição dos Grandes Vasos – doença congênita- que consiste no reimplante da aorta e da artéria pulmonar com transferência das artérias coronárias.
A Cardiologia do Brasil tem 7 epônimos. Os demais seis são o mineiro da cidade de Oliveira, Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas (1879-1934)- Doença de Chagas-, o paulista da cidade de São José dos Campos, Astrogildo Machado (1885-1945), o paraense de Belém, Cezar Guerreiro (1885-1949)- Reação de Machado-Guerreiro-, o mineiro da cidade de Passos, Randas José Vilela Batista, nascido em 1947- Técnica de Batista-, o argentino da cidade de Rio Quarto, naturalizado brasileiro, nascido em 1940, Miguel Barbero-Marcial- Operação de Barbero-Marcial- e o paulistano Radi Macruz, nascido em 1925- Índice de Macruz.
Vale dar voz ao Prof. Adib, reproduzindo as suas palavras na publicação eponimogênica Anatomic correction of transposition of the great vessels, editada no volume 72 do Journal of Thoracic Cardiovascular Surgery, em 1976, quando ele tinha 47 anos de idade, assim traduzidas: “… a ideia de reposicionar as grandes artérias na transposição não é nova… baseamos a nossa técnica na experiência com anastomose aorta-coronária… a desconexão da artéria coronária junto com um fragmento da aorta facilita a sutura de reimplante e previne estenose… o reposicionamento das grandes artérias é feito longe do plano valvar, permitindo boa área para as anastomoses e reforço da continência… ademais, permite ajustes no tamanho das artérias… nossa técnica será ideal para casos de transposição com comunicação interventricular ou persistência do canal arterial e hipertensão pulmonar com resistência arteriolar baixa… a queda da pressão ventricular em casos de ausência de comunicação interventicular incapacitaria a manipulação pós-operatória da pressão sistêmica… a operação pode ser tecnicamente difícil, mas cremos que ela seja reprodutível pela maioria dos cirurgiões cardiovasculares…”.
Esta exemplar aula de saber e sabedoria mostra por que o Prof. Adib conseguiu o êxito que cirurgiões predecessores famosos não obtiveram por cerca de 20 anos de tentativas.
Tive a oportunidade de conviver mais diretamente com o Prof. Adib no InCor, no período de 1983 a 1999, em que ele foi Prof. Titular da FMUSP e exerceu diretorias no InCor e na Faculdade de Medicina. Agradeço-lhe o aprendizado indelével e a oportunidade de organizar a homenagem no Anfiteatro do InCor, em 1999, aos 4 brasileiros epônimos da Cardiologia então vivos. A foto que inicia este post é da ocasião e que foi reproduzida no meu livro Epônimos em Cardiologia, Homenagem e Exemplo, Editora Roca, 1999.