Fármacos são mágicos. Possuem o poder do alívio e da cura. Eles ligam descobridores, indústrias, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, voluntários de pesquisa e pacientes. Sustentaram a revolução terapêutica do século XX e inseriram-se no mundo tecnológico em prol da pureza, estabilidade e qualidade. A padronização foi um ganho relevante para a Humanidade, pois se tornou fator do sucesso ao qualificar a cadeia produção, indicação, dose, via de administração e evitação de toxicidade.
A maioria das pessoas já tomou penicilina ou algum de seus derivados como a amoxicilina. Foi o inglês Alexander Fleming (1881-1955 ) quem, em 1929, a descobriu. Mas Fleming não se interessou pelo seu uso clínico, que teve início cerca de uma década depois. Doenças até então incuráveis mudaram de categoria de prognóstico.
Hoje é muito fácil dispor da penicilina. É ter uma prescrição médica e ir à Farmácia. Contudo, os primórdios da sua utilização tiveram lances dramáticos que exaltam o valor dos médicos pioneiros. O inglês Norman George Heatley (1911-2004) da Oxford University foi um deles, tendo dado importante contribuição para segurança do uso da fórmula a ser injetada.
Listo a seguir 10 acontecimentos do uso da penicilina no primeiro paciente:
1-1940, início da produção de penicilina em escala que permitisse testes em humanos;
2-No primeiro mês, havia cerca de 80 litros de solução de penicilina bruta;
3-Entendeu-se que havia penicilina suficiente para experimentar em um paciente;
4-Na enfermaria Radcliffe, Oxford, o paciente AA, 43 anos, estava com grave infecção estafilocócica e estreptocócica, sem resposta à aplicação de sulfa;
5-12 de fevereiro, início da infusão de penicilina e imediata melhora clínica;
6-19 de fevereiro, o paciente AA estava bem, tendendo à cura;
7-O estoque de penicilina ficou baixo;
8-Havia dificuldades de reposição por causa da guerra;
9-Pretendeu-se obter o antibiótico da própria urina do paciente;
10- Acabou a penicilina, a infecção recrudesceu, óbito do paciente AA, em 15 de março.
Hoje, decorridos 75 anos, os estoques estão garantidos, ninguém imagina ter dificuldades de alcance a um antibiótico comum como a penicilina. Por isso é que a história da penicilina é exemplo marcante de como o ato simples de engolir um comprimido ou de tomar uma injeção foi precedido pela perseverança humana beneficente perante obstáculos de várias naturezas.
A tenacidade, aliás, foi exaltada por outro inglês, Winston Churchill (1874-1965), que no mesmo ano de 1940 em que se deu o primeiro uso clínico da penicilina assumiu a função de Primeiro Ministro e contribuiu para dar firmeza à luta bélica em prol da Humanidade: “… Cada dia que se progride, cada degrau pode ser beneficente, muito embora haja um tempo antes de ascender, de se aperfeiçoar, sabendo-se que nunca atingiremos o final da jornada. Mas, isto ao invés de desencorajar, acrescenta satisfação e glória à escalada…”.