A vitalidade da beira do leito é ímpar. Uma fonte do vigor é o aristotélico comportamento: “… as coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemos fazendo …”.
É notório como o médico apreende, caso após caso, o que é de fato para fazer e, numa menor extensão, o que não é para fazer.
Assim, desenvolver o profissionalismo, pensar e realizar de forma harmônica com o estado da arte da Medicina, hierarquizar o caráter humano do atendimento são construções de atitudes de médico de natureza repetitiva. A repetição pode representar uma padronização de comportamento que no início exigiu muita atenção na sua constituição e que se consolida pela repercussão de bons resultados num nível menos consciente. É, pois, comportamento que tende ao automatismo. Em outras palavras, a condução por “piloto automático” referenda prática sintonizada com a Ética médica.
Queixa principal, anamnese, exame físico, exames complementares, integração diagnóstica, interdisciplinaridade, apoio na literatura, tomada de decisão, estratégia terapêutica, perspectivas prognósticas, reorientação evolutiva, comunicação direta e no prontuário empacotam-se num automatismo dublê de expertise.
A beira do leito, deste modo, habilita rotinas pessoais, mas elas estão longe de se constituírem em monotonias, pois não há dois casos exatamente idênticos, por mais simples que seja a expressão clínica. O habitual é o médico lidar com variantes. Infinitas composições que na maioria, todavia, cabem no corriqueiro controle ético. Ou seja, no espaço onde o automatismo pode ser ajustado confortavelmente ao compromisso com a prudência e com o zelo e funciona em suficiente grau de harmonia com paciente/familiar, instituição de saúde e sistema de saúde.
Mas há a minoria onde o automatismo não traz concórdia à beira do leito. Divergências sobre mais uma repetição de utilidade de métodos, entusiamo sobre condutas e excelência técnico-científica travam o automático atitudinal e criam crises da beira do leito. Percentual expressivo delas ultrapassa o nível de desafio para o qual o médico é carente do preparo para construir adequadas estratégias para solução.
É útil, então, que o alarme soe numa Comissão de Bioética. para uma oportuna gestão de relacionamento em crise soe numa Comissão de Bioética. A validade para este socorro de gestão de relacionamentos da beira do leito em crise sustenta-se numa consultoria multiprofissional e interdisciplinar que agrega olhos abrangentes, mãos solidárias e mente captadora, reflexiva e expositora.
A pedagogia da beira do leito entende que os desdobramentos das consultas em Bioética devem ser ganhos de matéria prima para adendos no automatismo para o médico. Os aperfeiçoamentos pela inclusão dos “manejos bioéticos” utilizados nas crises da beira do leito são facilitados quando há uma disposição à capilarização nas atitudes do médico solicitante. Esta absorção é o significado de um lema da Bioética da Beira do leito: A bioética é de todos os profissionais da saúde.
Aldous Huxley (1894-1963) nos ensinou que ganhamos experiência não com o que nos acontece, mas com o que fazemos com o que nos acontece. Pois é, quando acontecem as inevitáveis e repetidas crises da beira do leito, a parceria com a Bioética não deve ser vista como algo desconectado da essência do ser médico, uma eventualidade que é um fim em si mesmo. Pelo contrário, ao facilitar o encontro de soluções conciliadoras dos interesses, a Bioética enseja uma dimensão histórica para incorporação de uma lição na rotina profissional.
A Ética fortalece-se na expansão do automatismo do ser médico pelo enfrentamento das crises em parceria com a Bioética.