O pouco de Bioética que existe no Brasil, comparado a outros países, está concentrado em Comissões que ganharam a sigla COBI- Comissão de Bioética. Interdisciplinaridade, reflexividade e não cumplicidade acrítica são fortes compromissos de seus membros. Ademais, a maioria das Sociedades de especialidade não conta com nenhuma estrutura ligada à Bioética.
Com o objetivo de expandir o interesse pela Bioética no estado de São Paulo, o Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo (CREMESP) estruturou dois projetos, recentemente, que já se encontram em plena ebulição.
O primeiro visa ao aumento do número de COBIs em hospitais paulistas e o segundo tem a meta da inclusão da Bioética no apoio à administração e em atividades científicas das Sociedades de especialidade.
A receptividade para ambos tem sido gratificante. Percebe-se que há um universo de médicos – e de profissionais da Saúde de modo geral- que desejam conhecer a Bioética, pois reconhecem inequívoca a sua contribuição para o preenchimento de lacunas na consecução das boas práticas. Colegas animam-se com a perspectiva de se incluírem entre aqueles que atapetam com a Bioética os caminhos de atenção às necessidades individuais do paciente num mundo real pleno de desarmonias de várias naturezas.
Aspecto prático essencial para o ganho da motivação e da adesão dos “novatos” é a formação de uma visão de Bioética que, além de reflexiva, apoiada em normas e em princípios e atenta à Ética e ao Direito, é vantajosa para equacionar prós e contras e dar direcionamentos qualificados aos conflitos e aos dilemas da beira do leito, afinal, todos os têm.
Em outras palavras, qual a Medicina, a Bioética precisa da acreditação, colega a colega, da sua utilidade, eficácia e fator de segurança para sustentar tomadas de decisão especialmente complexas, onde há o potencial de posicionamentos plurais e divergentes que requer maximizar a intercomunicação –em solilóquio e dialógica-, uma forma eficaz de oposição a violências, pois conciliadora de pontos de vista.
Os hospitais de São Paulo, assim como as Sociedades de especialidade estaduais comungam desafios, mas são os peculiares de cada instituição que mais se identificam com a plasticidade da Bioética.
Os diretores técnicos de hospital e os presidentes de Sociedade de especialidade quando passam a contar com uma consultoria de Bioética compreendem rapidamente o quanto fortaleceram a plataforma da gestão no equilíbrio reflexivo proporcionado pela junção de ética médica com a filosofia moral. Eles aprimoram a clareza para a calibração dos pesos relativos, circunstância a circunstância, do acervo da Medicina, da atuação do profissional da Saúde, das necessidades do paciente, das normas institucionais e dos espaços preenchidos pelo Sistema de Saúde.
Desta maneira, a harmonização entre o idealismo dos praticantes da Bioética e o pragmatismo dos dirigentes idealmente ajustada às realidades regionais de um estado da Federação é endpoint almejado dos referidos projetos. É estimulante pensar que há muita disposição para o esforço idôneo em prol da excelência na beira do leito que privilegia três grandes virtudes sociais: justiça, equidade e dignidade.
Aprendemos com Erich Fromm (1900-1980) que devemos exaltar o narcisismo na forma benigna, aquele que confere a energia para a produção, o resultado do esforço pessoal, uma realização equilibrada pois vai se corrigindo pelos limites da realidade. É neste contexto de narcisismo coletivo na forma benigna que almejamos o Centro de Bioética do CREMESP convertido numa vitrine para apetecer multiplicadores da simbiose entre a técnico-ciência validada e o humanismo que dá valor à pessoa.