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1759- A clínica é soberana, o exame complementar é poderoso (Parte 3)

A tríade altamente representativa da medicina envolve os princípios da beneficência, não maleficência e autonomia que sustentam a Bioética da Beira do leito. Mais especificamente, a anamnese alinha-se ao princípio da autonomia, pois o paciente é livre para dizer e não dizer o que podem ser dados e fatos importantes para nortear o raciocínio clínico.

Pacientes revelam, esquecem, omitem e mentem, razão bastante para justificar o objetivo integrador da tríade para confirmações e extrações. Aprende-se desde cedo na sala de aula chamada beira do leito  que o real domina sobre o ideal e, por isso, o valor de um produto da inteligência natural em seu estado puro, que é conhecido como experiência.

A Bioética da Beira do leito chama a atenção para o valor pedagógica da experiência sobre desconexões propedêuticas entre a anamnese e os exames físico e complementar. Se antigamente, a necropsia fez aprender o significado de sintomas, atualmente, exames complementares exercem este papel instrutivo. A inteligência artificial deverá ampliá-lo.

O exame físico articula-se ao consentimento também ligado ao princípio da autonomia, pois não somente o médico entra na distância íntima do paciente – segundo a proxêmica, ela compreende a aproximação com contato real e o distanciamento de 15 a 45 cm -,  como também necessita tocar em certos locais, ou habitualmente constrangedores, ou que estão doloridos (suscita reflexões no âmbito do princípio da não maleficência). A título de esclarecimento, a anamnese é procedida na distância pessoal – aproximação entre 45 e 75 cm e distanciamento entre 75 e 120 cm.

Além do tato, os órgãos dos sentidos da visão e da audição – o estetoscópio é instrumento que alivia os embaraços da distância íntima –  persistem essenciais e por si podem reunir sinais fundamentais para o diagnóstico (alinhamento ao princípio da beneficência). Já os sentidos da gustação e da olfação perderam espaço ao longo do tempo, o médico não mais prova a urina numa suspeita de diabete, nem mais costuma ter a oportunidade de entrar no quarto do domicílio do paciente e sentir o odor acumulado característico de comas diabéticos, hepático e urêmico. Hoje, ambos acontecem de modo metafórico, o gosto – bom ou mau – de um efeito, o cheiro – no ar – de alguma encrenca.

O exame complementar, o último a se agregar e com caráter multiplicativo, associa-se aos princípios da beneficência e da não maleficência na medida em que tem o potencial de ampliar os subsídios para diagnósticos e planejamentos terapêuticos/preventivos, sempre considerando que quaisquer  métodos tecnocientíficos num terreno biológico podem causar danos ao paciente, quer a estruturas normais, quer agravando comorbidades.

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