De novo, o fator tempo em meio aos sufocos da rotina prejudica. Aspecto prático que faz humano o tempo no consumo da medicina é quando o exame complementar identifica uma situação de urgência e qualquer atitude de indiferença seria antiética, ou seja, a necessidade da orientação de quem “cuida do paciente”, assim aproximando o real do ideal na evitação de perda de oportunidade de beneficiar o prognóstico.
O tempo é essencial na arte de aplicar a tecnociência ajustada à medicina. A Bioética da Beira do leito enfatiza que qualquer atendimento ético requer necessariamente a consciência sobre o tempo, do valor do início e do fim de marcos temporais.
Há o agudo em que pode-se considerar o presente bem próximo do passado e há o crônico que os distanciam. Há o eletivo, a urgência e a emergência, três classificações que trazem distintas influências sobre o tempo hábil para planejamento e execução de condutas. Há o tempo de impacto da etiopatogenia, há o tempo de reação fisiopatológica, há o tempo de administração de medicamentos, há o prazo de validade de materiais, pontos de referência para necessidades diagnósticas, terapêuticas e prognósticas, caso a caso. Há o tempo de pesquisa clínica organizado em etapas progressivas que antecedem a validação assistencial.
Enfim, há o passado, o presente e o futuro que entrelaçam médico e paciente em torno de memórias – anamnese e experiência profissional, por exemplo – e de imaginações – potencial de efeitos de métodos produzindo planejamentos individualizados de condutas pelo médico e sustentações idiossincrásicas de consentimento ou não pelo paciente.
No ecossistema da beira do leito, o tempo associa medicina a verdades em função das múltiplas perspectivas propostas pelas inevitáveis inquietações, incompletudes, dúvidas e incertezas. Interações entre hipótese diagnóstica, diagnóstico sindrômico e diagnóstico de certeza qualificam-se pelo abastecimento de componentes da verdade.
Fatos reais – como sintomas – e dados interpretados segundo os conhecimentos atuais – meta de níveis de glicemia, colesterolemia, pressão arterial, por exemplo – não devem ser monólogos justapostos, mas, tanto quanto possível, serem matéria-prima para diálogos que a cada momento do atendimento formule e responda questões, promova decisões, sustente avaliações dos efeitos. Continuidade de conexão médico ⇔paciente é termo que congrega responsabilidade contínua, tempo fragmentado e verdades sucessivas.