3902

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1730- Medo, culpa e apoio da Bioética (Parte 4)

A Bioética não é uma religião mas tem adeptos fervorosos. Eles reconhecem força e potência na Bioética para interpelar consciências, movimentar raízes éticas e morais, estimular cautela e equilibrar tensões entre liberdades teóricas e não liberdades práticas. A Bioética concentra valores que facilitam resumir o que dá para ser o possível mais próximo do ideal filtrado pela contínua evolução da tecnociência e da sociedade.

A Bioética valoriza evidências, fatos documentados, dados corretamente captados, críticas justificadas, bem como preocupa-se com o desserviço do obscurantismo sempre à espreita, anti-instrução que prejudica a condução dos atendimentos pelo rigor com a ética, a moral e o legal, aspecto pétreo da conexão médico-paciente-medicina. A Bioética, ademais, dispõe-se a estar – qual escoteiro – sempre alerta e disposta à boa ação, especialmente, face a recorrências da pós verdade que hierarquizam emoções e crenças pessoais.

A Bioética tem duas certidões de nascimento, na de 1927, o teólogo Paul Max Fritz Jahr (1895-1953) manifestou o imperativo ético da aceitação das obrigações morais dos seres humanos a todos os seres vivos e na de 1971, o biólogo Van Rensselaer Potter (1911-2001) enfatizou a necessidade premente de aplicar o conhecimento sobre biologia básica, ciências sociais e humanidades como ponte para a sobrevivência humana e melhoria da qualidade de vida. Fica evidente, portanto, que a Bioética está de modo congênito duplamente agregada ao medo e à culpa de acontecimentos negativos ao Homo sapiens.

Credita-se ao ser humano a exclusividade de sentir culpa, que parece estar ligada ao mesmo tempo à constatação da imperfeição e a sua reprovação. A preocupação com o par medo – culpa chega oficialmente com a obtenção do número do CRM que representa a autorização da sociedade para dela (bem)cuidar, num momento em que está cumprida a etapa da graduação em medicina, mas, habitualmente, longe de representar um nível razoável de segurança profissional para desempenhar as funções a contento.

O jovem médico(a) sabe que a simples aquisição do número do CRM é etica, moral e legalmente insuficiente, o importante é honrá-lo pelo uso respeitoso. Assim, um sentimento de medo/culpa em grau muito pessoal oscila entre latente e ativo, entrelaça-se entre inconsciente e consciente, motivado por um superego sempre atento, crítico, censor, ciente das limitações, vigilante das opiniões dos outros. Algum bioamigo discorda estar  isento desta descrição?

O par medo – culpa compõe o conjunto de razões para o exercício da pós-graduação da Residência médica como um contínuo de aprendizado sob supervisão que, idealmente, deve incluir a participação crítica da Bioética. Ela coopera para reduzir os improvisos, melhor perceber que competência não tem preço, tem valor. A supervisão clássica é, obviamente, mais experiente, mas, humana que é, não está isenta do par medo e culpa e as defesas construídas servem de exemplo – bons e maus- para os mais jovens.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts