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1684- Linguagem (Parte 3)

O sentido de seminovo é igual ao de semivelho, algo que deixou de ser novo há dois anos é exatamente o mesmo que envelheceu dois anos, por exemplo, mas as expressões soam diferentes no desejo, na valorização pelo ser humano. Quem nomeia o copo como meio cheio percebe-o de modo distinto de quem rotula o copo como meio vazio, mesmo fato, diferente visão circunstancial. Alguém pode crer que ele tenha sido um copo cheio esvaziado pela metade e alguém pode achar que estava vazio e a seguir enchido parcialmente.

Já o copo cheio ou o copo vazio não admitem divergências, ou seja os extremos costumam associar-se a universalidades que não podem ser ignoradas pelas individualidades interpretativas. Eletividades e emergências ilustram, como expresso no Art. 31 do Código de Ética Médica vigente: É vedado ao médico desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Não pode e pode bem definidos nos extremos, muito embora nem sempre seja bem caracterizável a iminência de morte evitável, por exemplo, a verificação de hipopotassemia importante que é passível de causar fibrilação ventricular com implicações, por exemplo, em relação ao Art. 26 do Código de Ética Médica vigente: É vedado ao médico deixar de respeitar a vontade de qualquer pessoa, considerada capaz física e mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la compulsoriamente, devendo cientificá-la das prováveis complicações do jejum prolongado e, na hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.

Vazios de esclarecimentos de situações motivam lacunas a serem preenchidas com interpretações sabe-se lá como, razão para que os esclarecimentos pelo médico sejam bem compreensíveis pelo paciente, muito embora finas verificações sejam complexas. A Bioética da Beira do leito alerta que faz parte da aplicação da prudência no processo de tomada de decisão, a valorização dos focos sobre as intersecções das palavras ditas no ecossistema da beira do leito com as universalidades do mundo da medicina e com as individualidades das mentes nas conexões médico-paciente, partindo da premissa que cada um coloca rótulos próprios independentes.

É útil na medida em que, à luz da Bioética principialista, as interpretações de beneficência/benefício, não maleficência/não malefício e dever de fazer/direito de não se submeter podem exibir antagonismos. 
Ainda utilizando o ponto de referência/fio condutor “Bom para quem?”, o significado de sucesso terapêutico, por exemplo, é passível de “traduções” distintas, possibilidades de calibragens de interpretação.

Suponha bioamigo, um paciente com sintomas insuportáveis com resolução ideal num tratamento cirúrgico de porte médio de fato consentido e bem aplicado. A cirurgia foi um sucesso diz o cirurgião porque ele realizou com precisão a exérese pretendida, os sintomas  desaparecerão pensa o clínico ante o exposto pelo cirurgião, certamente será um sucesso etiopatogênico; a anestesia foi um sucesso diz o anestesista porque o paciente nada sentiu e recuperou a consciência rapidamente; o clínico algumas horas depois não mais mentaliza sucesso em função de uma grave hemorragia discrásica e, evidentemente,  paciente e familiar também não podem rotular o procedimento como sucesso, embora a eliminação do sintoma original tenha ocorrido. É a evolução pós-operatória como um todo que define se o caso terá sido um sucesso ou um insucesso para o mundo do paciente em meio a individualidades interpretativas. Eventual avaliação ética sobre um resultado final mal sucedido inclui, comumente, componentes admissíveis de serem rotulados como sucesso numa atmosfera de insucesso.

Como dito por Henry Alfred Kissinger (1923-2023): Cada sucesso compra um tíquete de admissão para um problema com maior dificuldade.

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