Na verdade, PNR estava excitado, uma boa recomendação era um ato de sonora amizade, e, assim, qualquer silêncio já ameaçava ser preenchido pela voz severa da consciência, em resposta, ele até esboçara algumas providências, via como ensaios, testes mesmo, mas um movimento pendular atuava sobre sua força de vontade, oscilando entre a ilusão e a concretização e trazendo à mente uma sensação de estar sendo observado por um olhar indiscreto… dele mesmo. É terrível esta fiscalização, crítica e censura! Atrai sentimentos de culpa.
Faltando 48 horas para a consulta, PNR como era de seu estilo de vida (a parte boa, brincava) organizou respostas ao que previa que o médico lhe perguntaria, reviu algumas datas, separou exames, até a carteira de vacinação. Por alguma destas razões que enriquecem a diversidade da condição humana, decidiu que dormiria cedo na véspera, não levaria consigo o maço de cigarro – mas só jogaria no lixo depois da consulta como ato representativo do compromisso então assumido -, iria em jejum e estacionaria o carro longe para ter feito “um bom exercício” antes de se ver na frente do médico. Em poucas horas, teria atravessado o Rubicão e pronunciaria Alea jacta est para uma vida melhor qualificada e quantitativamente mais prolongada. Que maravilha!
Tudo de bom da medicina do estilo de vida seria absorvido, seria de verdade, agradava-lhe que não estaria mais sozinho, o médico saberia colocar a solidariedade da medicina no caminho do cumprimento das metas. Sim, encontraria o caminho, não seria o melhor caminho, seria o único caminho e, importante, sinalizado pela ciência. Preso a ela, usufruiria do paradoxo da liberdade de seus órgãos e sistemas de preservarem suas fisiologias e evitarem fisiopatologias.
O transitório ficaria para trás, os maus hábitos seriam tão somente lembranças do passado, o definitivo protetor prevaleceria e as comparações positivas ajudariam a suportar as transições e trariam enorme satisfação! Oxalá! Torcedor fanático de futebol, PNR deliciava-se pensando que o VAR revisaria seus lances na grande área da saúde e proporia cartão vermelho para os maus hábitos. Menos seria mais!
Paciente é um leigo, pode ter até conhecimentos tecnocientíficos graças a curiosidades de leitura, que pelos atendimentos toma contato com informações relevantes para recuperação/controle da saúde. Obediências requerem imposições, mas elas não devem ser atos de infligir pelo médico, devem ser autoimposições pelo próprio paciente.
PNR saiu da consulta animado para uma nova fase da vida. Sentiu seriedade no processo a que se submeteria, um pontapé inicial já acontecera no consultório, lhe satisfizera. Por incrível que pareça, o próximo passo aconteceu à noite. Teve um sonho em que voltou à infância. Viu-se severamente advertido pela mãe por querer comer doces mais do que frutas, ficou de castigo meia hora sentado num canto da sala por correr dentro de casa e quando chegaram umas visitas foi imediatamente forçado a ir dormir. Acordou com o sonho ainda bem vivo, metódico, anotou para mostrar ao médico, haveria de ter alguma ligação com os tais dos seis pilares que lhe foram explicados.