É elogiável cuidar para o triângulo principialista da Bioética, sempre em prol do melhor interesse do paciente, configure-se com ângulos menos afastados uns dos outros. Urge, pois, na formação médica, renovar esforços para equalizar o interesse pelos aprendizados sobre o que, como e quando fazer em prol do paciente tecnocientificamente e sobre técnicas de comportamento perante recusas do paciente adulto e capaz a se submeter.
Decorre que perante o não consentimento pelo paciente para a aplicação de métodos beneficentes, especialmente, em ocasiões de previsíveis impactos negativos da recusa sobre qualidade de vida e prognóstico de sobrevida, médicos se inquietam, trinca-se a tendência profissional de orientação biófila de preservação da vida e combate à morte e surge uma espada de Dâmocles batizada como negligência.
A sensação de perda de controle profissional é fonte de efeitos estressantes no médico que ainda não amadureceu um modo próprio de lidar com negativas do paciente. A evolução não é simples pois não faltam exemplos de acusações de negligência médica feitas por familiar do paciente que se recusou a se submeter ao método recomendado e teve má evolução clínica.
Transferências de culpa e interpretações de responsabilidade formam um par instigante para a Bioética da Beira do leito na medida em que costumam se articular às contraposições entre a pró beneficência planejada pelo médico e anti beneficência manifestada pelo paciente.
Neste contexto, familiares não infrequente entendem que as vulnerabilidades/debilidades do estar doente justificam estigmatizar o paciente como um incapaz cognitivo sem condição de exercer voz ativa sobre as próprias necessidades de saúde, inclusive com justificativas de preservação humanitária da pessoa do paciente.