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1625- Bioética e Geriatria (Parte 6)

Elaborado em coautoria com o Prof. Dr Wilson Jacob Filho

O idoso habita fronteiras cinzentas das apreciações de ascensão, estabilização e declínio e o nível de harmonia entre corpo e mente é motivo de preocupações numa dimensão múltipla, individual, social e econômica. A Bioética da Beira do leito  enfatiza as inquietações etárias que sempre existiram e persistem com a roupagem da contemporaneidade no âmbito da conexão médico-paciente idoso e cuja apreciação é facilitada pelo contexto do principialismo da Bioética.

Uma primeira consideração refere-se à definição de idoso. Ser idoso, estar idoso e ficar idoso admitem distinções. Especialmente porque todo ser humano possui três idades: a idade cronológica, uma aritmética simples que se alinha ao carimbo de idoso cada vez mais influenciada pela variação da expectativa de vida, a idade biológica da disposição para a vida – há idosos muito ativos e jovens “cansados” – e a idade biológica de cada órgão – por exemplo, uma mente jovial associada a um coração envelhecido pela aterosclerose. Cada um apresenta-se com sua combinação e não faltam idosos “muito bem dispostos”. Aliás, a geriatria desenvolveu-se nas últimas décadas dando efetiva contribuição para o envelhecer saudável. 

A variedade de apresentações do par idade cronológica-idade biológica nos remete para o século IV aC em que Eubulides de Mileto formulou o paradoxo de sorites. Sorites significa monte em grego e podemos, então, conjecturar que a idade cronológica é um monte de anos. No original, as perguntas eram: um grão é um monte? Não é; mil grãos formam um monte? Sim, formam. Quantos grãos devem ser acrescidos ao solitário ou quantos devem ser subtraídos dos mil para vir a formar ou deixar de formar um monte? Exige uma convenção, alguma autoridade precisa fixar uma linha de corte numa decisão altamente subjetiva. Na questão do idoso, alguém com um ano de idade é um idoso? Não é; oitenta anos de idade caracterizam um idoso? Sim, caracterizam. Quantos anos devem ser acrescidos ao primeiro ano de vida ou quantos devem ser subtraídos dos oitenta anos para alguém vir a ser classificado ou deixar de ser classificado como um idoso? Na sociedade, exige uma convenção para uma linha de corte, há a aposentadoria compulsória, questões previdenciárias, enquanto que na individualidade articula-se ao depende do estado biológico e de uma estimativa altamente subjetiva.

No âmbito da conexão médico-paciente idoso, a Bioética da Beira do leito chama a atenção para possibilidades de representações e práticas de etarismo não bem explícitas, aparentemente aceitáveis, mas que devem ser motivo de apreciação crítica a respeito de componentes passíveis de recepção como depreciativos ou em excesso de paternalismo.

Em relação ao princípio da autonomia, idoso não é sinônimo de cognitivamente incapaz, destituído do direito de decidir sobre sua própria saúde. Não tendo sido classificado como incapaz para tomar decisões. o idoso conserva a voz ativa que deve dizer  Sim doutor, Não doutor, Talvez doutor em resposta a recomendações médicas validadas e indicadas. Não é admissível generalizar o idoso como agente de condutas que são passadas de geração para geração como tipicamente de um velho e provocam resistências à manutenção da forma de convivência.

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