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1565- Aliança Bioética urgente! (Parte 2)

A internalização, um entranhamento impossível de me livrar, colocou-me em estado de treinamento permanente sobre relevâncias de demandas habituais e ocasionais como catálise de escolhas, crítica de imposições e valor da pluralidade. Teoria e prática empacotadas num único termo que necessitara de uma conjugação de vocábulos na nascença, indício de quanto entrevia-se vasto a partir de uma motivação inicial resumida em há o que é permitido e o que é proibido, há o que se faz e o que não se faz e uma geração deve educar a outra neste sentido a fim de manter a fidelidade com a preocupação.

A constância com a Bioética reduziu minhas doses de “sem noção” disto e daquilo referentes à competência. Em certos aspectos do meu profissionalismo, a Bioética encontrou uma tábula rasa, preencheu com novos saberes e desenvolveu a afirmação da sabedoria que, invariavelmente, temos sempre algo mais a aprender. Inclusive sobre limites de aspirações, pois o lidar com as interrelações entre beneficência, não maleficência e autonomia demonstram as vantagens de o médico afastar sentidos de ilimitação da beneficência que constituam artimanhas da imaginação e provoquem decepções profissionais pelo respeito ao direito à autonomia pelo paciente. A Bioética permite mais adequada compreensão a respeito da diferenciação entre maleficência por imprudência na tomada de decisão sobre indicação/não indicação/contraindicação de métodos e maleficência por negligência no uso indicado e consentido.         

A Bioética é ferramenta multiuso – ou melhor, uma caixa de ferramentas – para proporcionar clareza a obscuridades num modo avaliativo. Ela admite um espírito de algoritmo. A Bioética não explica exatamente ao médico porque há pessoas que rejeitam beneficências (desvalorizam “hábitos saudáveis”) e incorporam maleficências (atração por “hábitos etiopatogênicos”) contra uma lógica científica em que o médico acredita e propaga, mas, ela incentiva a nominar o que acontece com cada paciente e o que determina seu comportamento “negacionista”, o nocaute emocional pela má notícia, os porquês do desespero por uma segunda opinião aliviadora. É o bastante para fundamentar iniciativas de reesclarecimentos sobre prós e contras do proposto e reposicionamentos sobre juízos. Um paternalismo, o brando.

A Bioética enfatiza que o ser humano tem dificuldade de avaliar plenamente objetivos preventivos quando está num estado afetivamente “frio”, longe da ideia de vir a ficar doente e sofrer influência sobre o bem-estar e, também, quando em estado afetivamente “quente”, que ele tende a superestimar preferências atuais, achar que serão duradouras e exagerar, assim ignorando a sabedoria popular aplicável à medicina que não há bem que sempre perdure e não há mal que não termine.  

Não é preciso ser médico para perceber, intuitivamente, que determinadas pessoas estão doentes, é preciso ser médico para demonstrar que a a causa é, por exemplo, uma pneumonia com componente aspirativo e não se pode prescindir da Bioética para lidar com certos percalços de conduta causados por peculiaridades de integração entre tecnociência e humanismo no decorrer do planejamento, prescrição e acompanhamento terapêuticos.        

Uma noção reforçada pela Bioética é a imperiosidade do cuidado na comunicação para que os significados das palavras empregadas pelo profissional ao leigo venham a ser captados na mais alta correspondência do que se entende por esclarecimento – vai além da informação. A conexão médico-paciente deve ser amparada por uma linguagem conveniente de ideia clara, caso contrário, ela cai e diálogos são substituídos por monólogos.

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