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1572- Teoria e prática na beira do leito (Parte 5)

Recomeços são comuns, e se tornam tanto mais exitosos quanto mais se aproveita a expertise acumulada, por exemplo, no manejo de novo fármaco, na realização de nova técnica cirúrgica, na incorporação clínica de novo teste laboratorial, na aplicação de um novo paradigma terapêutico ou preventivo.

Com tanto para aprender hoje em dia numa acelerada transformação, quem se forma em medicina é tão somente um profissional criança necessitada de ainda ser educada pelas gerações anteriores. Ele vivencia a adolescência profissional na Residência médica e é o adolescente prolongado que se torna o profissional adulto jovem, num processo de amadurecimento que se pretende numa sociedade. Veio à mente o impacto suposto da profusão das escolas médicas no Brasil sobre o trajeto profissional criança – profissional adulto jovem, sobre a grandeza da teoria e da prática a serem fornecidas, mas fica para outra ocasião.

Quando tornei-me consciente que a Bioética é congênita na medicina tal como idealizada por Hipócrates, me dei conta que entrei na faculdade (1962), saí de faculdade (1967) e levei cerca de 30 anos formado para ser apresentado à Bioética (1997). Uma questão de nomenclatura, pode ser, mas ter a denominação, mais do que mera formalidade, favorece sua real influência. Muito porque a sua teoria pode ser sistematizada após ter ganho um nome de batismo.

A memória é o presente do passado que deve ficar o mesmo, resistir a ajustes de fatos embora sensível a reinterpretações. Quando estudante de medicina, passei dois anos (1962 e 1963) aprendendo teoria para a seguir (1964) começar a praticar por meio da propedêutica. Do burocrático laboratório para a dinâmica da beira do leito.

O idealizado quero ser médico começava a ser possível. O desejo se apresentava mais movimentado, numa expressão plural, flutuante e  contraditório. Cada encontro com um paciente orientado pelo mestre era uma redução das limitações da transição leigo-profissional, vivenciava uma bem-vista aceleração do que não era para o que me tornava.

Num determinado momento já sabia como examinar um fígado com minhas mãos, meu desejo de ser médico dava valor ao ganho semiótico. O que resultasse dos exames hepáticos daí para a frente poderia ser um bem ou um mal para o paciente, para o eu médico seria bom, me daria conformidade com a ética. Nos anos 60 do século passado era impensável um clínico desconhecer como reconhecer uma hepatomegalia pelos próprios órgãos dos sentidos.

Era a cartilha a ser seguida visando a ascensão profissional, na verdade uma sucessão de iniciações estimuladas pelo desejo maior de ser/estar/ficar médico numa posição a mais qualificada e que jamais é plenamente satisfeito, e que é eliminável em troca do desejo pela aposentadoria. No decorrer do ano de aprendizado da propedêutica, tive o apoio do sistema educacional a que estava inserido  para afastar-me de uma condição de glutão de sintomas e sinais e aproximar-me de um estilo gourmet de me nutrir dos métodos.

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