Verdade é adequação do intelecto ao real, concordância entre sentido e realidade. Acredite em quem procura a verdade, duvide de quem a encontrou disse o cético Andre Gide (1869-1951). Quantas verdades não passaram pelos três estágios muito comuns de ridicularizadas, a seguir, violentamente contrapostas e, finalmente, aceitas como auto evidentes como evidenciado por Arthur Schopenhauer,(1788-1860)?
A prática da medicina convive com verdades definitivas como um conhecimento anatômico, com verdades clínicas que só adquirem o significado após uma seleção eliminatória de “verdades em potencial” como no diagnóstico diferencial e verdades até então ocultas que eclodem de múltiplas interligações, inclusive, admitindo a adjetivação de surpreendente.
Em função da plataforma científica da medicina, métodos para comprovação de surpresas de veracidade no campo da saúde não chegam a torturar a hipótese candidato à verdade do jeito apresentado por Schopenhauer, mas determinam caminhos investigativos exigentes de conclusões, não somente da existência do fato- surpresa, como também do impacto no contexto da vida, qualidade e sobrevida.
A Bioética endossa ponderações sobre presença e efeito de verdades atuantes, quer já conhecidas, quer ainda aguardando alguma evidência alertadora, reconhece as tensões decorrentes e dispõe-se a cooperar para que a verdade seja sempre um valor para o ser humano. Por isso, a Bioética é sensível à dualidade crítica, à não rigidez peremptória em afirmações tecnocientíficas, à porta do conhecimento sempre entreaberta.
A Bioética detesta cadeados, muros, grades e becos sem saída. Arquiteta pontes de saber, viadutos de ética e livre trânsito de ideias, entendendo que pedágios morais são válidos para a manutenção. Desestimula quaisquer intenções de onipotência e de omnisciência profissionais pela valorização da objetividade e do pensamento crítico do método científico. A preservação do respeito mútuo é um dos pilares do empenho da Bioética para concretizar as conexões humanas.
