O Poder da condição humana no caso em questão também interessa à Bioética no componente médico da conexão médico-paciente. Evidentemente, não seria admissível fazer conjecturas sobre o estilo de atendimento do médico, mas, pode-se supor um feitio mais descontraído e, com base no conteúdo da notícia divulgada, com sensibilidade à humanização, argumento complementar para a readmissão no serviço médico. O desejo de liberdade (do médico) não está isento de vir a se configurar numa atuação/interpretação de desobediência (ao estado da arte).
A humanização é partícipe capital na Bioética e um dos pilares para a missão pedagógica de treinar atitudes em cenários adversos motivados pela condição humana, especialmente aqueles em que as insatisfações do paciente/responsável/familiar não se acompanham de caracterizações de infração ética. Fica a questão: A readmissão justificada pelo respeito à medicina baseada em evidências/experiência clínica e intenção de humanizar o atendimento significa salvo-conduto para repetições com mesma forma ou reconhecimento de ausência de infração ética ou administrativa com recomendação ao médico de repensar a forma de atendimento? Comporta antinomias entre teoria e prática da liberdade profissional, abrir mão da liberdade em favor de consensos.
A beira do leito comporta-se, ainda tendo Michel Foucault como referência, como um arquipélago de ilhas de poder com relacionamentos que operam segundo uma pluralidade de posições, de cima para baixo, de baixo para cima e lateralmente porque os indivíduos servem como veículos de transmissão do poder.
Além da “ilhas” Poder do conhecimento, Poder da condição humana, Poder dos costumes, Poder da medicina baseada em evidências e Poder da instituição/sistema de saúde, outras “ilhas” de poder chamam a atenção no caso: Poder da tecnologia Poder das redes sociais, Poder da Imprensa e Poder do Conselho Regional de Medicina. Imperativos de interações de poder sobre um acontecimento, sobre o aqui e agora contém adaptações circunstanciais pela noção que, em nome da legitimidade, os exercícios de poder costumam preparar terreno para exercícios seguintes, especialmente quando envolvem culpa e castigo.
A Tecnologia é etiologia na notória redução da vida útil de paradigmas na beira do leito e sustenta continuadas renovações de aprendizado pelo médico que valoriza estar sempre no topo da atualização tecnocientífica. Sou testemunha da incorporação na prática clínica de inovações da tecnologia que atualmente se, porventura, tornem-se indisponíveis, traria uma situação figurada como a retirada da escada que deixa o médico pendurado na lâmpada que precisa trocar. A relação inclui ecocardiograma, tomografia computadorizada, ressonância magnética, stent arterial.