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1433- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 17)

O médico contemporâneo tem que desenvolver um olhar profissional sobre cada encaixe das peças, um olhar que tem muito de perscrutador, do momento de averiguar e sentir as coisas como são antes de partir para a revelação do oculto, para traduzir a teoria da tecnociência para a prática da arte do diagnóstico, terapêutica e prevenção. A Bioética coopera para estimular o ganho de uma desenvoltura multiprofissonal e transdisciplinar para compor o olhar de médico, um indicador da boa-fé moralmente imperiosa.

O ato ou efeito de medicar é a essência do caso contestado acima referido, atrelado a uma ideia de supremacia de princípios e normas sobre inclinações humanas, preponderância do validado sobre contingências. Houve a procura pelo medicar e aconteceu um fato destoante da subjetivação habitual da sociedade sobre medicar. Nas entrelinhas, pode-se imaginar a insatisfação associada a uma percepção que teria havido por parte do médico uma revelação, uma conduta apartada da experiência. Gerou uma exposição de relações de poder, nenhuma apenas um figurante, um campo magnético para atrair o ímã da Bioética.

Crédito:https://pepperweb.com.br/o-poder-das-redes-sociais/redes-sociais/

Na carona com Michel Foucault (1926-1984), suas duas noções de relações de poder, poder-saber e poder da condição humana aplicam-se a conflitos da beira do leito. O poder do conhecimento tecnocientífico– já na transição do século XVI para o século XVII Francis Bacon (1561-1626) reconhecia que conhecimento é poder tem atualmente forte sustentação pela medicina baseada em evidências via diretrizes clínicas sob responsabilidade de sociedades de especialidade. Pela notícia divulgada este poder se fez presente no atendimento e se constituiu alicerce para subsidiar a decisão de readmissão do médico. Em outras palavras, o conhecimento farmacológico foi um poder-saber “poderoso”. Por outro lado, o poder da condição humana representado pelo responsável pelo paciente provocou uma resistência ao poder-saber. Ponto de interesse da Bioética é que a contestação deu-se no componente não farmacológico  (sorvete, jogo) da prescrição.

O conflito traz à tona o significado do termo remédio como recurso, um termo guarda-chuva, para tudo que possa ser útil e eficaz na dualidade saúde-doença, não somente um fármaco. O sorvete fora da subjetivação habitual de medicar, não adicionado como remédio pela habitual “tecnologia do self” na cultura da população em geral, motivo da insatisfação do responsável pelo paciente numa individuação da pluralidade da condição humana, admite abrigo no guarda-chuva remédio.

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