O par acolhimento e paternalismo, o brando, não é contraponto ao princípio da autonomia, pelo contrário, é favorecedor na medida em que viabiliza abrangência e profundidade na contextualização para o mais autônomo juízo pelo paciente à interação com os demais princípios da beneficência e não maleficência.
Esclareça-se que paternalismo do médico no âmbito de tomadas de decisão pelo adulto capaz tem várias possibilidades de conceituação, por exemplo, tanto a indevida interferência sobre o paciente contra a sua vontade, quanto uma justificável alegação de que o paciente resultará beneficiado/não prejudicado. A exceção salvo em iminente risco de morte constante em artigos do Código de Ética Médica vigente ilustra o potencial interpretativo, até porque nem sempre é fácil estabelecer a iminência e qualquer atraso pode ser decisivo.
De fato, após a demonização em bloco, uma abertura interpretativa de plausibilidade assegurou o resgate numa subdivisão pela adjetivação do paternalismo médico em brando e forte no contexto da conexão médico-paciente preservou a tradição médico de recomendar condutas indicadas, atualizadas e validadas com a vontade inequívoca – e ética- de promover beneficência/não maleficência de melhor qualidade tecnocientífica de interesse para o paciente adulto e capaz.
A Bioética da Beira do leito entende que o paciente deve ficar à vontade para pensar e sujeito à solicitação para repensar suas escolhas, mas sempre conservando a prerrogativa da palavra decisória final. Neste aspecto, é essencial entender que o paternalismo médico, o brando, que intenciona proteger qualidade de vida e sobrevida frente a uma doença não interfere na voz ativa do paciente.
Quando o paciente manifesta livremente um Não doutor à recomendação médica, o paternalismo, o brando, expressa acolhimento ao paciente. Representa que eventuais entendimentos pelo médico de indiferença do paciente à medicina que esteja embutida no Não doutor não justifica reações profissionais de indiferença, especialmente porque a diferença da vontade para Sim doutor e Não doutor pode ser (re)trabalhada sem prejuízo da ética pela eficiência da (re)transmissão de conhecimentos, tanto do médico, quanto do paciente. A Bioética da Beira do leito considera que as habituais assimetrias entre médico e paciente, tanto no conhecimento científico quanto no modo de enxergar as situações, justificam pelo menos uma segunda rodada dialógica que pode suceder-se como uma segunda primeira opinião.