Bioamigo, a conexão medicina-médico-paciente-familiar contemporânea raramente deixa de incluir algum viés cognitivo, afetivo ou imperativo. O paciente ao necessitar do atendimento as suas necessidades de saúde insere-se numa comunidade de interpretação, que para ele apresenta-se, pelo menos ao início de sua experiência como paciente, como uma ilha cognitiva onde a organização atual sustentada pela medicina baseada em evidência e infraestrutura diversificada funciona de modo que cada profissional da saúde pode pensar e atuar individualmente, mas as condutas são de natureza coletiva. Por isso, cabe ao paciente conjugar-se também como indivíduo e coletivo, sentir-se presente numa verdadeira caixa de ressonância que lhe determina captar tecnociência a ele esclarecida e propagar/ressoar numa maneira idealmente influenciada por próprios objetivos, desejos, preferências e valores.
A sequência ética de conduta recomendável pelo estado da arte e conduta aplicável após filtro biológico individualizado no paciente que organiza a experiência medicina-médico para o caso, evidentemente, não pode deixar de contar com o pertencimento do paciente à ilha cognitiva como fornecedor de fatos e dados com o intuito de interpretação diagnóstica/fisiopatológica/prognóstica. Mas, o pertencimento do paciente mais do que à ilha cognitiva deve se dar à comunidade de interpretação, completar a integração por meio da realização terapêutica/preventiva, simplificável como consentimento para fechar a conduta com legitimidade e credibilidade.
A denominação de conduta consentida como efeito em bloco do consentimento sobre a conduta aplicável tem expressão didática, indica a imperiosidade da aplicação aguardar o Sim doutor, entretanto, o mais desejável é que cada passo do cuidado profissional desde a queixa principal seja acompanhado de diálogos visando a consenso/ajuste. É prática que contribuir evitar um sonoro e frustrante Não doutor depois de muita dedicação.
Afinal, médico e paciente são representantes de distintas comunidades de interpretação cujas experiências organizadas precisam dialogar para se compreenderem e interagirem mantendo respeito às identidades, normas morais e aspectos culturais. Acresce, além da prática de calibrações indiretas por analogia ao sabido, que cada profissão na área da saúde – médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, farmacêutico, nutricionista, serviço social – pode ser considerado como uma própria comunidade de interpretação/ilha cognitiva, cada qual com seus manejos de vieses em suas rotinas individuais e coletivas.
A Bioética da Beira do leito entende que a sabedoria consumida no ecossistema da beira do leito, caso a caso, tem que contar com a capacidade de percebimento da presença de vieses. Ao mesmo tempo, é essencial saber lidar com sensibilidade com as realidades dos vieses e com o potencial de acreditação dado pelas informações obtidas em sites da internet e redes sociais, a fim de evitar que iniciativas de desfazimento de vieses colidam com interpretações constrangedoras de desrespeito à pessoa humana, por exemplo, quando de situações onde associam-se vieses e vulnerabilidades.