A Bioética da Beira do leito enfatiza que cada tomada de decisão rumo ao consentimento ou não à recomendação médica apresenta uma calibragem peculiar de apreciação do potencial de beneficência e do potencial de adversidade, e a efetiva realização da utilidade e de danos após a aplicação está sempre sujeita não somente às estatísticas sobre bem e mal conhecidos, como também a imprecisões de conhecimentos e a efeitos de desconhecimentos e imprevistos.
Cada médico costuma fazer as apresentações de adversidades possíveis segundo o treinamento proporcionado pela vivência, muito embora saiba que cada paciente reage ao seu modo, tanto antes da aplicação quando a possibilidade é informada (desde indiferença até pânico), quanto após a adversidade ter de fato acontecido, especialmente quando o médico optou não mencioná-la para evitar efeito nocebo.
A Bioética da Beira do leito lembra que é praticamente impossível prever que avaliações de risco de adversidades pela visão da tecnociência e do paciente se superponham, o efeito bula é ilustrativo. Como ensinado pelo paradoxo de sorites, o que a ciência classifica como baixo, intermediário e alto, de maneira heteronômica sob critérios de gravidade biológica, não necessariamente superpõe-se ao individualizado pela mente do paciente, onde há forte efeitos da memória e da imaginação.
Na prática, o extremo do risco mínimo de adversidade maior da régua calibradora é entendido como senha para liberar o procedimento e o extremo contralateral do alto risco faz direcionar para fronteiras da contraindicação por excesso de potencial adverso comprometedor da qualidade de vida/sobrevida.
O potencial de beneficência – medicina dependente-, assim, sujeita-se a uma rejeição em função da vontade do paciente a respeito da maleficência e, desta maneira, a beira do leito está frequentemente carregada de dilemas morais. Mais uma razão para que a autonomia e o paternalismo, o brando (não coercitivo, não proibitivo), andem de braços dados.