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1289- Em detrimento de. Privilégio e Bioética (Parte 13)

O privilégio meritório articula-se com o narcisismo benigno em que uma autoimagem favorável (autoestima) alinha-se ao esforço do profissional em se qualificar, orgulhar-se de seu desenvolvimento profissional, obtenção de sucesso e reconhecimento pelo trabalho. É dinâmica expansiva, mas também auto limitadora, pois, respeita as relações com as realidades do cotidiano, internas e externas, refreia excessos que possam comprometer legitimidades e autenticidades.

O narcisismo maligno difere do narcisismo benigno pois o objetivo não é o que se executa, mas o sentido de posse que carece de limites e tende a isolar o indivíduo como proteção contra a dificuldade de convivência equitativa. Associa-se ao esplendor narcisista que acontece tanto num plano individual quanto numa dimensão de grupo por se julgar superior. Alinha-se com egocentrismos, autoritarismos e restrições à socialização e ao diálogo.

Privilégios assim se constituem não pelo sentido meritório, mas de modo abusivo, aventureiro, por esperteza, abuso de poder mesmo, em que o desejo de colher o fruto não é precedido pela visão da necessidade natural de plantar a árvore. Não infrequente, a defesa de um privilégio é uma argumentação do tipo ilusão real, tentativas à semelhança de convencer que é um movimento natural, “indiscutível”, qual a sensação que o sol desloca-se de leste para oeste no decorrer do dia, evidentemente dissimulando o heliocentrismo.

Acresce que quanto mais abusivo é o privilégio sobre médicos(as) numa instituição de saúde, mais ele é óleo em água. As paredes dos hospitais têm boca e ouvido, a folclórica rádio peão – rede social institucional- está 24 horas no ar com frequentes notícias sensacionais, mais cedo ou mais tarde, o médico(a) que se beneficia de algum tipo de privilégio abusivo perceberá que seu anel de esmeralda não tem a função de invisibilidade do anel de Giges.

Uma variante do privilégio é dar-lhe naturalidade por meio de ajustes de normas, a ideia de uma fidelidade histórica, um enquadramento contratual imperceptível que objetiva mais bem enquadrar uma seleção apriorística de beneficiários. Tal enxerto passível de ser considerado um estratagema, uma insensibilidade, um controle do outro, um ato de força para uma posse, permite uma analogia com o mito de Procusto. Este personagem mitológico impunha um padrão com pitadas de intolerância, ou esticava as pernas dos viajantes ou as cortava para que coubessem no leito por ele padronizado.

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