O número do CRM torna-se uma extensão do sobrenome, fixa-se como tatuagem indelével ao médico(a) brasileiro, – ou seria mais correto paulista, mineiro, gaúcho, carioca, etc… -, pois, diga-se de passagem, é válido tão somente para um estado da federação. Na prática, ele faz dupla com o número de CPF (este nacional) que, então, habilita a exercer um profissionalismo com amplas relações bióticas e abióticas no ecossistema da beira do leito.
A concessão deste símbolo profissional, que a propósito criou o hábito do carimbo – que compõe os C da beira do leito do médico(a) contemporâneo ao lado de celular, computador, caneta, crachá e conhecimento científico – e que curiosamente levou a formalidade do ato de carimbar à condição de representação de legitimidade profissional, insere-se nas atribuições dos Conselhos Regionais de Medicina de deliberar sobre inscrição e cancelamento no quadro do Conselho e de manter registro dos médicos(as), legalmente habilitados, com exercício na respectiva região, conforme a lei 3268 de 30 de setembro de 1957.
O então presidente da República, o urologista Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) recebeu o CRM número 1 do então Distrito Federal, uma distinção ao único médico-presidente do Brasil. Recorde-se que esta normatização ocorreu cerca de 150 anos depois da elaboração das primeiras diretrizes sobre medicina em 1808 por decreto imperial quando da instalação da Escola de Cirurgia da Bahia, a primeira no país.
Recentemente, surgiu o RQE – Registro de Qualificação de Especialidade- obrigatório para a divulgação da especialidade – não para o exercício da mesma- por quem possui certificado de conclusão de Residência Médica devidamente registrado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e/ou Título de Especialista emitido e registrado pela Associação Médica Brasileira (AMB).
O biótico médico brasileiro do ecossistema da beira do leito ultrapassa 500 mil profissionais. Embora ordenados por um número representativo da profissão, cada um é um profissional-pessoa que apresenta peculiaridades de interação com os demais e com o abiótico, suas combinações de métodos clássicos e inovações mais ou menos concentrados em instituições de saúde numa interdependência exigente de regramentos éticos, morais e legais. Especialidades e áreas de atuação multiplicaram-se nas últimas décadas e centros com maior densidade biótica e abiótica admitem o potencial de convivências complicadas, por exemplo, com decorrências da cultura de privilégio.