A interação entre os três envelhecimentos acima citados tende a provocar entre os profissionais da saúde movimentações desde a linha de frente para a retaguarda. É verdade que dependendo da especialidade, da área de atuação, de características pessoais e de fatores institucionais, os deslocamentos podem nem acontecer, mas, especialmente, na atividade clínica, o profissional da saúde costuma numa tempo-dependência acentuar sua participação no processo de tomada de decisão em relação à execução do decidido e consentido.
A Bioética da Beira do leito entende que é essencial que o profissional da saúde tenha forte consciência do papel da prudência no processo de tomada de decisão, que ela deve ser constantemente reforçada pela vivência profissional como qualificadora de decisões e demanda um compromisso praticamente inegociável no âmbito de atuações em equipe. Se para a prudência é essencial o alinhamento entre a individual e a de equipe, para o zelo na execução, é fundamental a curva de aprendizado do domínio do método por quem tem a incumbência da aplicação, processo no sentido da excelência que ocorre num variável espaço de tempo para cada procedimento e para cada talento profissional.
Assim sendo, pode-se admitir que na dissecação da competência de cada profissional da saúde, as habilidades amadurecem mais precocemente e os conhecimentos e os modos atitudinais estão em constante processo de aperfeiçoamento. O trabalho em equipe, do sentir/pensar/aplicar num sentido coletivo beneficia-se destas realidades de convivência com a tecnociência, vale dizer de um permanente reequilíbrio entre competências e incompetências.
O exercício da prudência justifica-se porque aplicações dos métodos de beneficência no ecossistema da beira do leito acompanham-se, invariavelmente, de níveis de risco de danos e que a realização do benefício almejado com menor quantidade de danos é proporcional a ao valor dado ao princípio da não maleficência que calibra o coletivamente recomendável para o individualmente aplicável. A prudência, então como um ligante entre beneficência e não maleficência, nos orienta sobre situações em que não se deve fazer o que poderia ser feito e há situações em que o que se pode fazer, mesmo longe do ideal, é melhor do que não fazer, o que traz implicações em interpretações de imprudências e negligências, lembrando neste particular que, comumente, juízos éticos observam fortemente a convicção por trás da decisão.
O regate de como foi empregada a prudência (na decisão) e constituído o zelo (na execução) por parte da equipe profissional é essencial para ajuizar o tom ético em circunstâncias de manifestações discordantes quer do paciente/familiar, quer da instituição de saúde. Não é infrequente que o respeito ao estado da arte por parte da equipe profissional não combine com o desejado por circunstantes à mesma.
Na atual conjuntura de hierarquia decisória no ecossistema da beira do leito, a tecnociência pode resultar em segundo plano, haja vista que a posição superior é a do (não)consentimento por parte do paciente. Há décadas se verificam confrontos entre autonomia da equipe profissional e autonomia da instituição de saúde, e, por isso, a prudência tornou-se também útil no processo de entendimento e acatamento do respeito ao princípio da autonomia por parte do paciente.
Se considerarmos válida a inclusão do paciente como membro da equipe em função de sua participação ativa na emissão de dados e fatos e voz ativa no processo decisório, a prudência ainda se torna útil para a conscientização pela equipe que nem sempre pode-se contar com o consenso com o leigo, que a maioria que porventura determinou uma decisão de equipe será sempre inferior à minoria de único discordante caso seja o paciente, que em situações de iminente risco de morte prevalece o poder da autoridade médica e que em situações especiais como fronteiras entre terapêutica e paliação, a participação de uma estrutura externa como o Comitê de bioética pode ser contributivo.
O exercício da prudência requer credibilidade nas fundamentações. Por isso, a Bioética da Beira do leito enfatiza que os membros da equipe profissional devem ser os mais sinceros sobre uma escala que vai desde bem conhecer sobre o que não aplicam até aplicar sem maior profundidade de conhecimento a respeito do que se solicita de cada participante. Significa o valor da comunicação como facilitadora da realização das expectativas da equipe, como controle de qualidade para a efetivação do planejado/recomendado/consentido.