Suponha-se internado em hospital de Ensino ligado a uma Faculdade de Medicina. O professor entra no seu quarto e solicita permissão para trazer um grupo de 8 estudantes de Medicina para treinar anamnese e exame físico. Você colaboraria e ficaria à disposição?
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Uma resposta
É uma situação que quando estudante, eu e meus colegas de grupo, os falecidos Barradas, Guilherme e Gastão, mais os sobreviventes, eu e o Nelo, colocamos para o preceptor de ginecologia e obstetrícia. Propomos conversar com a paciente, obter seu consentimento, e, mesmo assim, apenas um aluno a examinava junto do preceptor. Éramos jovens avançados eticamente e não sabíamos, para nós era uma questão de respeito humano.
O fato de ser um hospital-escola não dá o direito aos profissionais de invadirem a intimidade do Outro sem seu consentimento, independentemente da especialidade. Colocamos um caso no livro vivido em ambulatório, a paciente trabalhava no prédio onde os alunos moravam, o que piora em muito a questão.
Em enfermaria, quando o paciente sente-se respeitado, dificilmente ele cria alguma dificuldade quanto ao ensino. Comigo aconteceu algo interessante, acompanhava uma paciente no terceiro-ano em trabalho do curso de medicina social e psicologia médica (naquela época tínhamos um leito fixo que visitávamos semanalmente desde o primeiro ano, levantávamos as questões de habitação, alimentação, aspectos psicológicos etc). Na prova de propedêutica, a paciente que acompanhava nesse curso, cochichou para mim seu diagnóstico: era uma insuficiência aórtica. Quando os pacientes se sentem acolhidos, percebem seu interesse, dificilmente ocorrem problemas dessa ordem. O problema é que cada vez mais percebe-se um distanciamento do humano nas relações.