Mais um dia de trabalho. O assistente PJF chega para passar visita. É sua rotina das 9 horas faz tempo. Gosta do que faz e nunca deixa de antes de mais nada aplicar seu experiente olhar de relance sobre a atmosfera da rodinha da visita. Logo percebe o ar preocupado do residente LT. Já sacou que uma situação de atitude está para ser apresentada. O residente LT se apressa:
– Incrível, doutor, o paciente PLB, aquele do caso complexo que discutimos ontem me disse assim que eu cheguei que pensou melhor e quer ir para casa hoje, ele desistiu do procedimento! Fiquei bravo, disse que ele iria morrer se não fizesse, abri a diretriz no tablet e mostrei que era recomendação IA. Não adiantou nada, ele está irredutível. A enfermeira disse que ele sabe que tem direito a alta a pedido. Depois de tudo que fizemos… Não me conformo! Que vamos fazer, doutor? O senhor vai lá convencê-lo?
Seguiu-se uma discussão produtiva, o paciente participou de parte dela e a alta a pedido acabou por ser assinada. Dois dias depois, o paciente PLB retornou em situação de emergência. Por coincidência, o plantonista no Pronto Socorro era o residente LT. A discussão com o assistente tornara-o melhor preparado para receber o paciente e conduzir o caso. Como veio a comentar mais tarde, desparecera aquela sensação de algema no braço direito unida ao paciente e no braço esquerdo ligada à diretriz clínica. Percebera que a disponibilidade das chaves libertadoras dependia de formatação na mente com forte influência da experiência ética. Os fundamentos de Bioética utilizados contribuíram para eliminar a radical reprovação ao paciente e para substituir pelo compromisso de dar acolhimento ao retorno. Como enfatizado pela Bioética da Beira do leito, a expressão A clínica é soberana (imperiosa) é eterna na versão de substrato para atuação ética.
Bioamigo, a Bioética da Beira do leito preza o principialismo derivado de Belmont (1978) e enfatiza o valor da continuada apreciação crítica sobre as inter-relações dos princípios, quer entre si, quer com outros fundamentos admissíveis na beira do leito que subsidiam pensamentos e conhecimentos pertinentes ao exercício da medicina contemporânea. No fundo, uma busca do normal imperfeito.