As motivações para a militância em Bioética incluem a vontade de um continuado reaprender cuidando para que sempre se perceba algum sentido de provocação ética/moral/legal em cada cenário profissional, o que determina sucessivas alianças com a pluralidade dos saberes e das sabedorias.
A Bioética da Beira do Leito entende que a Bioética requer ilimitada transdisciplinaridade, ampla abertura para contextualizações, muito diálogo transcultural, conciliações com ciências e não ciências. Admite, pois, infinita gama de instruções e cuida para as atravessar e as ultrapassar, assim, sustentando-se num multirreferencial e multidimensional sem fronteiras sólidas e estáveis entre as organizações de pensamentos e conhecimentos.
Oscar Wilde (1854-1900) nos legou que verdades são raramente puras e jamais simples, um reforço indiscutível ao valor da transdisciplinaridade. Michel Foucault (1926-1984) nos ensinou que verdades não são necessariamente neutras e práticas essencialmente discursivas podem as construir.
De fato, não há limites para interpretações de palavras. Assim, pode-se fazer uma nova verdade a partir de uma palavra porque ela se superpõe à representação de uma ideia que já se encontra interiorizada como verdade.
Caso alguém esteja propenso a conceituar algo como verdade, é comum desta forma criar uma palavra-mágica e utilizá-la para desejos, aconselhamentos ou dominações. Provocar uma imagem sensível a ser contraída do passado para dar conotação de familiaridade: Vou ao médico, preciso fazer uns exames. Pois é, pretende-se que neles – não exatamente em quais- estejam as verdades sobre a saúde.
Na área da saúde, as últimas décadas testemunharam crescente proporção de utilizações diagnósticas, terapêuticas ou preventivas fundamentadas por evidências científicas obtidas de modo sistematizado. É um processo em andamento, uma doutrina com consensos e dissensos entre os profissionais da saúde.
Já no âmbito leigo colide com tradições como a “prescrição de verdade de benefício” do leigo para o leigo, que no folclore carioca tem a figura da indicação da comadre. Afinal, um hábito é uma disposição de expectativa que é repetitiva e com grande dificuldade de ser modificada.
Para obter resultados pretendidos, prescrições que demandam imaginação e analogia precisam evitar a situação de não concreto/não abstrato – meramente possível- e alinhar o abstrato – conceito de beneficência- ao concreto- benefício sem malefício, compreendendo que assim tem chance de funcionar como uma verdade em todas as contingências.
A “prescrição discursiva”, mais retórica e menos científica que pretende um tom de incontroverso, necessita provocar um deslocamento de interpretação, ou seja, estimular a partir de um abstrato habitualmente incontestável, o desenvolvimento de uma ideia de efeito concreto.
Aproveitando a utilidade da transdisciplinaridade irrestrita conforme a Bioética, pode-se fazer uma analogia da “prescrição discursiva de verdade de benefício” com o marketing ligado à embalagem e ao rótulo de um produto, proteção e informação, atração e informação.