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944- Utilidade e útil (Parte 7)

FrasesBioamigo, podemos dizer que (A1) e (B1) são enunciados verdadeiros do conhecimento sob qualquer visão admissível e que os enunciados (A2) e (B2) não são nem verdadeiros nem falsos. Depende!

No momento do consentimento o grau de admissibilidade de verdade numa recomendação depende de como o paciente enxerga a potencialidade, da confiança no médico e na medicina, do seu estado de espírito, do nível de sofrimento.

A expectativa de recompensa pela submissão vai adquirindo contornos de realidade no decorrer da evolução da aplicação do recomendado consentido e a individualização da realização sustentará a apreciação de quanto verdadeiro haveria na expectativa.

Pode-se chegar à situação de paradoxo, em que a verdade evolutiva torna individualmente falsa a proposição sustentada num coletivo, frustrante, embora sem má-fé profissional porque não houve falsidade tecnocientífica. É aspecto da linguagem de interesse ético na medida em que admite a sabedoria de Carl Gustav Jung (1875-1961): Tudo depende de como olhamos para as coisas e não de como elas são em si mesmas. Um insucesso terapêutico associado a intercorrências e sequelas, por exemplo, comporta tanto uma sensação de dever cumprido (do profissional que foi zeloso) quanto de uma prática danosa (do leigo).

Assim sendo, o processo de tomada de decisão incluindo o pedágio do consentimento pelo paciente é oportunidade no âmbito da conexão médico-paciente para mentalizar metas, esforços e desempenhos num nível de realidade imaginativa que é verdadeira pois é possível de acontecer, mas que poderá resultar falso, não no sentido de enganoso, mas de modificação da apreciação como verdade. A semântica tem muito a ver com a interpretação ética.

A Bioética da Beira do leito entende que a dualidade entre o que é dito e o que deve ser compreendido é essencial na percepção do potencial de verdade quando da obtenção do consentimento do paciente a uma recomendação médica respeitosa ao princípio da beneficência. Na contramão da idealidade, o charlatão é uma mentira que exala verdade. Já o médico muito reticente pode ser uma verdade aspirada pelo paciente como uma dissimulação.

Não há dúvida que o Sim do paciente, condição sine qua non para que potencialidades tenham chance de se realizar, expressa, comumente, a existência de uma motivação intrínseca, um interesse numa atividade que enxerga como um fim em si mesma. Por isso, a Bioética da Beira do leito enfatiza que a comunicação médico-paciente precisa incorporar a distinção entre utilidade – que é beneficência- e útil – que é benefício.  Que todos fiquem cientes que para beneficência transformar-se em benefício o cogitado precisa acontecer. Informar ao paciente que sua doença tem cura não garante que ele a obterá no caso. Um malabarismo para a empatia.

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