A legitimidade de um (não) consentimento livre e esclarecido a uma recomendação médica pode estar sustentada por um corpo de evidência (esclarecimento) ou por uma crença (liberdade).
A influência da linguagem na compreensão da comunicação bilateral não pode ser desprezada. O próprio termo clareza, por exemplo, pode ser visto com vagueza. Por exemplo:
1- É claro que é uma arma de brinquedo. Mas, se é de brinquedo não satisfaz a definição de arma como instrumento de ataque e de defesa.
2- É claro que se trata de um médico nesta foto, veja que está de branco e tem um estetoscópio no pescoço. Desculpe, mas duvido que seja, o local me parece um palco de teatro.
A Bioética da Beira do leito interessa-se pela relação entre crença e corpo de evidência. Suponhamos um fármaco em pesquisa que tenha sido aprovado nas fase I: aplicado em indivíduos saudáveis objetivando essencialmente segurança e fase II: indivíduos que têm a doença ou condição em estudo com o objetivo de maior segurança e avaliação da eficácia. São iniciados os testes de fase III, por exemplo por um estudo multicêntrico, pretendendo conclusões sobre segurança, eficácia e interação de drogas. em voluntários de pesquisa.
Cada caso envolvido nesta fase III comporá uma comparação de efeitos. A droga em estudo está sendo comparada com placebo, de modo que o clima do laboratório subentende uma perspectiva de probabilidade de efeito para a droga e de ausência de efeito para o placebo. Todavia, o contrário pode ocorrer ou ambos terem mesmos efeitos.
Assim, pela crença, uma droga que já mostrou alguma eficácia na fase II e um placebo sendo uma substância inerte, terão tendências de efeito e de não efeito. O objetivo é deixar a crença em plano secundário e privilegiar o corpo de evidência. De repente, pela comparação com o placebo, a arma que seria de verdade não funciona como uma arma. Estar de branco e com estetoscópio precisa provar que possui diploma de médico.
Se for apenas pela crença, a sequência de casos da droga e do placebo será diferente, mas, a fase III existe exatamente porque a fase II exige complementações para clareza da eficácia. O aspecto essencial é quanto de diferença precisa acontecer para que a conclusão seja de superioridade. Por isso, a Bioética da Beira do leito entende que a ciência da estatística ao se utilizar das teorias probabilísticas para modelar a aleatoriedade contribui para reduzir as indeterminações e assim melhor sustentar a beneficência/não maleficência, mas não o princípio da autonomia, embora possa ser de utilidade para o exercício do paternalismo brando.