A autenticidade decisória do paciente na beira do leito sofre os efeitos de como sentir-se si mesmo perante questões acima do seu preparo. A doença não á apenas um fenômeno físico, é também um fenômeno pessoal e carrega um simbolismo. O paciente necessita do corpo próximo à medicina, mas reflexões colocam-no em distanciamentos e só o paciente sabe para onde os aspectos pessoais estão levando.
A Bioética da Beira do leito questiona se o não exercício de um processo de consentimento de fato trabalhado faz falta para o paciente? Ele sente o direito como uma abertura da identidade para a sua futuridade, o que virá a ser? Ou a sensação é de uma força contra a qual nada pode fazer e torna condescendência?
A diversidade impera e torna pesquisas muitos setoriais. A ética médica não parece exigir uma posição do médico sobre eventualidades de sentir falsidade (no sentido de que não aparenta ser real) ou perceber superficialidade por parte do paciente. A tensão médico-paciente costuma ocorrer mais comumente quando ocorre um não consentimento exageradamente aprofundado (Dr. Google é etiopatogenia), assim motivando contra-argumentações por parte do médico.
O corpo refere-se à beneficência, a mente à autonomia. Habitualmente, o direito à autonomia é exercício após definições de beneficência. Muito embora, como no dicionário, o Relatório Belmont ordene autonomia antes de beneficência.
Deduz-se que assegurar que houve esclarecimento para qualquer paciente independente de idade, sexo, doença, situação clínica e que produziu adequadamente os desdobramentos é mais complexo do que se pensa.
Uma das dobras é o quanto há de conveniência na atitude do médico em avaliar criticamente as verbalizações do paciente, especialmente acerca das interfaces entre a volição própria e a chamada autonomia de relação, portanto na autenticidade, especialmente na negativa ao consentimento. A interdependência de familiares sustenta aconselhamentos e constrói e reconstrói decisões e, inclusive contrabalança tendências automáticas e emocionais do paciente pela racionalidade.
A autonomia de relação costuma provocar sombras no Sim ou Não do paciente, pois alinha-se à dimensão social – o ser humano é gregário por natureza-, a forças externas mais ou menos explícitas, a realidades externas muitas vezes circunstanciais, a possibilidades de relacionamento abusivo, lavagem cerebral, manipulação psicológica (gaslighting), enganação e situações de subserviência.
A autenticidade é aspecto delicado na conexão médico-paciente pois corre o risco de ultrapassar a fronteira do self do paciente, virar vigilância sobre terceiros, mas na conotação genética, o médico seria o “gene hipocrático” que aumenta a confiança do paciente na própria decisão.