Ilustremos com dois pensamentos do escritor WG Sebald (1944-2001) que se amoldam à medicina: a) a verdade emerge vagarosamente; b) o tempo não existe, as histórias se entrecruzam e vivos e mortos compartilham o mesmo espaço.
Ambas concepções ajustam-se à beira do leito de superposições de camadas éticas, morais e legais historicamente acumuladas. Mais de cinco décadas de frequência cotidiana à beira do leito permitem-me dar legitimidade ao conceito da mescla de épocas, vale dizer, da atemporalidade da contemporaneidade no atendimento às necessidades de saúde.
A conotação arqueológica expressa que referências de valor são renascentes, ekas sobrechegam como decorrências do tempo e avivam-se como efetividades contemporâneas. Desde Hipócrates (460ac- 370 ac) são 26 séculos de camadas sólidas mais espessas a partir do século XX.
Estimo em 5% a ainda vigência do que representava a completude do saber médico por ocasião da minha formatura. Aliás, o turnover permanente na beira do leito faz com que o médico saia de um caso com alguma sabedoria a mais de como entrou. Somos mensageiros na beira do leito de mensagens para o paciente constantemente renovadas. Estética da arte de aplicar medicina.
A continuidade redesenhada – lápis e borracha sem parar- enfatiza considerar o agora imprescindível foi semeado outrora, ou seja, o que estamos fazendo não dispensa referências que foram propelentes do progresso.
A roda viva rapidamente metamorfoseante da atualização em medicina, ou seja uma beira do leito sempre em recriação com novas feições profissionais, assim, lida com um espectral que habita a beira do leito de modo apartado do tempo. O espectro materializa-se no domínio tecnocientífico, no manejo de simbolismos próprios da saúde/doença e no comportamento compassivo.