Um novo acontecimento. O médico literalmente na palma da mão. Um aplicativo compatilhado. Tornou-se frequente a conexão médico-paciente via aplicativo de mensagem.
A beira do leito ganhou sucursais de teledistância com expectativas de atendimento a qualquer momento, premissas de processamento no curto prazo, compromissos com resposta técnica, num cenário de carência de modelos validados.
Perante o acionamento eletrônico do paciente, o médico, de antemão, sabe que há situações em que pode estender a resposta, estabelecer um certo diálogo e que há situações onde deverá orientar para um atendimento presencial. Há brevidade na decisão e a restrição de tempo compromete tanto a abrangência, quanto à profundidade do pensamento crítico.
Há somente anamnese disponível. Eventuais imagens do próprio corpo ou achados de exames realizados no âmbito de outra especialidade encaminhados pelo paciente e não relacionadao a um atendimento prévio e recente devem ser nomeadas como informação e, assim, é anamnese.
Um ponto essencial é que sendo tão somente anamnese, o médico deve evitar uma apriorística nulidade de importância clínica que talvez fizesse presencialmente já na anamnese, mas, obviamente, respaldado num olhar de conjunto. Cabe a premissa cautelosa de reconhecer que se houve o acionamento é porque houve preocupação. Por mais que a condição de leigo justifique uma avaliação profissional de falta de sentido, o rigor ético recomenda a presunção de avaliação com profissionalismo, a pressuposição que fumaça indica fogo.
Cada médico analisa a sua maneira, entende o quanto conhecer o histórico de doença do paciente pode, eventualmente, ter influência no tipo de resposta a respeito da novidade comunicada. Entretanto, por mais que possa ecoar falta de sentido, a mensagem não deve deixar de ser apreciada com abertura para o desconhecido e o imprevisível e com tolerância a opiniões do paciente por acaso manifestas. Um encontro apenas pela anamnese tem mais potencial para limitações do que para expansões.
É importante supor que embora o exagero e o ponto correto possam estar em duas extremidades, há um continnum de estados intermediários com fronteiras entre si indeterminadas que impedem posicionamentos seguros tão somente pela imaginação em meio a conjecturas de possibilidades e influências emocionais.
A Bioética da Beira do leito alerta que uma sensação, uma impressão, uma percepção, estes termos que se embolam na semântica e se irmanam numa possível significação clínica têm o poder de provocar projeções de memória e, se ligam o alerta no paciente, o médico também deve fazer o mesmo.
Há uma verdade de momento, há um Eu e um Outro justapostos eletronicamente e sensíveis à sabedoria que conexão a precedências é matéria-prima tradicional para a tomada de decisão investigativa de sintomas expostos na anamnese.