De repente, despenca o diagnóstico. Nada simples. Nem para o médico, nem para o paciente. Necessidade de um tempo avaliativo, uma análise de vontade e uma demanda criativa.
A resultante habitual é a adesão à recomendação terapêutica/preventiva. O paciente é livre para se comportar a sua maneira, mas, na prática, sofrendo fisica e mentalmente, ele se vê limitado e cercado de condicionamentos. Há sintomas que trazem influências sobre a qualidade de vida, há adversidades inerentes ao tratamento que provocam insatisfações, há exigências de internação hospitalar que acarretam afastamentos indesejados da rotina. Abre-se um parêntesis na vida e fechá-lo domina os pensamentos. Expectativas, oscilações, emoções!
Um resumo de tudo isto é a ocorrência na beira do leito de uma realidade técnica sustentada pela medicina e que se torna uma dimensão da realidade existencial do paciente. Agora, em função da doença, o ser humano precisa vivenciar uma nova individualidade. Pode ser uma situação provisória – uma pneumonia bem resolvida-, uma terminalidade – uma morbidade em estágio avançado sem perspectiva de regressão-, ou um término portal de um reinício.
Um dos aspectos mais entusiasmantes da medicina contemporânea e com alto interesse da Bioética da Beira do leito é a chance de prevenção – secundária ou primária- que se alinha com a concepção de término portal de um reinício. O potencial preventivo articulado com supressões e/ou acréscimos representa uma das interfaces mais justificadoras da conveniência de uso dos princípios da beneficência, não maleficência e autonomia de modo integrado.
Um hábito reiniciante – de sedentário para militante de academia-, o uso de fármaco redutor de risco etiopatogênico – como a estatina- e a submissão a um calendário de vacinas ilustram novas fases implicadas com uma triangulação entre os princípios da beneficência, não maleficência e autonomia (cada um constituindo um lado do triângulo).
Há o ideal triângulo equilátero, onde a tríade se posta na mais próxima interação. É a circunstância do paciente aderente à recomendação médica, do benefício que segue a pretendida previsão estatística e do não malefício tanto o de natureza imediata quanto o vindouro evolutivo. Medicina, médico e paciente poderiam ser mentalizados nos ângulos compondo uma figura harmônica.
Há o triângulo isósceles, onde um dos princípios manifesta-se mais afastado dos demais. O lado distante pode ser a autonomia, quando o paciente resolve passar a descumprir a adesão que até então resultava no benefício pretendido apesar de não maleficência; ou ele pode ser a beneficência, quando o paciente é aderente, inexiste malefício, mas não ocorre a utilidade terapêutica ou preventiva cogitada.
Há o triângulo escaleno, onde os três princípios se mostram dissociados. É ilustrado na obstinação terapêutica, em que o paciente é desrespeitado em sua manifestação de vontade, o tratamento não traz nenhum benefício e os efeitos adversos dominam a evolução clínica.