A beira do leito contemporânea tem a expectativa da sinergia das inteligências natural e artificial na conexão medicina-médico-paciente. Há 26 séculos Hipócrates (460ac-390ac) entendeu que a inteligência humana seria superior à competência dos deuses para cuidar da saúde dos seres humanos. Ficou comprovado. A inteligência humana anotou cuidadosamente dados de pacientes, aguardava a morte e, em seguida aprendia sobre a doença com a necropsia. Muito inteligente.
Dando um salto na história, David Sackett (1934-2015) e outros perceberam que a inteligência do médico precisava mais do que a memória operativa e boas ideias para fundamentar condutas de fato beneficentes e propuseram o desenvolvimento de evidências a partir de pesquisas clínicas. As decorrentes diretrizes clínicas, todavia, anestesiaram a inteligência de médicos em uma de suas mais necessárias contribuições na beira do leito, a individuação.
Mais recentemente, Eric Topol (nascido em 1954) alerta ao cuidar da Deep Medicine que considerar que todos pacientes têm a mesma chance de apresentarem determinada intercorrência ao serem submetidos a mesma conduta é cogitar sobre um número de falso-positivos. Assim, a sinergia com a inteligência artificial permitirá acrescentar informações precisas sobre quem de fato poderá estar compondo o grupo das intercorrências e, evidentemente, sofrer ajustes preventivos de conduta.
O denominador de tudo é: a realidade do passado subsidia a cogitação do cenário futuro. O enorme volume (big data) das informações coletadas aperfeiçoará as previsões, o que, em última análise, significa a atenção ao fundamento essencial da ética médica brasileira, a prudência. Prudência como virtude e como expressão da inteligência com a fidelidade ao futuro.
Em termos da Bioética da Beira do leito, a contribuição do aprendizado sobre o passado pela inteligência artificial alinha-se com o princípio da Não maleficência que na medicina contemporânea representa segurança biológica para o paciente… e segurança ético-legal para o médico.