Recente acontecimento político-policial envolvendo candidato a presidência da república trouxe o profissionalismo médico para as manchetes. Acontece que a leitura de algumas notícias evidenciou um certo quê de surpresa pelo sucesso obtido numa gravíssima emergência atendida em um hospital pouco conhecido além do estado de Minas Gerais. Ademais, o pasmo incluiu que foi intervenção realizada pelo SUS, insinuando que esta condição indicaria menor nível de qualidade. Certamente produto de insatisfações acumuladas com o sistema de saúde que respingam sobre a pessoa do médico.
Pelo que se soube e sem contestações veiculadas, houve plena e imediata disponibilização de recursos materiais e humanos conforme as necessidades do caso e que eles seguiram uma dinâmica interdisciplinar e multiprofissional de atendimento louvável. Restou unanimidade que o caso teve diagnóstico e tratamento ágeis com a competência para manter a vida do paciente e favorecer o prognóstico pós-operatório. A entrevista que aconteceu com os médicos que atuaram em campo transpareceu profissionalismo, uma sensação de dever cumprido com postura ética exemplar. Palmas para o profissionalismo médico brasileiro!
Quem vivencia os meandros da beira do leito sabe que médico que respeita a Ética porque atende ao seu caráter é médico sempre respeitador do Código de Ética Médica vigente mesmo diante de certos percalços provenientes do sistema de saúde. Não se pode deixar de destacar que o Brasil conta com vários hospitais que atendem a população pelo SUS com inegável profissionalismo, eu por exemplo, posso atestar a comprovada e ininterrupta excelência do atendimento pelo SUS no InCor, onde trabalho há mais de 40 anos.
O episódio redundou em oportunidade para salientar que os médicos brasileiros são responsáveis, qualificados e sabem trabalhar em equipe. As inevitáveis exceções caem no chavão confirmam a regra. A atuação meritória é contraponto para o que se lê e se ouve pelo destaque a desmazelos, que muito mais ligados ao sistema de saúde, acabam por prejudicar a imagem do médico em geral. Erros profissionais são verbalizados como erros de um médico, muito embora imperícia, imperícia ou negligência do médico sejam causas minoritárias dos mesmos.
As iniciativas para frequência a Residências médicas e estágios para aperfeiçoamento – prática comum, contudo sem exigência formal de obrigatoriedade para a posse de um número de CRM-, bem como a fundamental atividade assistencial diária voltada para a atenção às necessidades de saúde do paciente, são fatores capitais na lapidação do jovem médico que se diploma e já entra no mercado de trabalho. Eles permitem superar deficiências – justificáveis e injustificáveis- na ampla rede de graduação brasileira e trabalhar eticamente apesar de dificuldades de infra-estrutura.
Um dos objetivos da Bioética da Beira do leito é ressaltar constantemente o valor do cumprimento dos Princípios fundamentais da Ética Médica II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional– e V – Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.