Realinhamento é termo de suma importância na beira do leito atual. Refere-se à sintonia com as circunstâncias e à determinação para cumprir ajustes. Realinhar meios científicos com resultados humanos, realinhar prudência com beneficência, realinhar o lado doente da pessoa com o seu lado saudável, realinhar ética da profissão e exigências leigas, realinhar o modo como o médico se vê e como é visto pelo paciente.
Realinhamento requer a precedência de um encontro com desarmonias. Como em qualquer qualidade de encontro, acontece provocando expansões e limitações. Considerando expectativas de resultados para a saúde do paciente, o médico costuma ficar mais impactado com as limitações da realidade e o paciente com as expansões da esperança. É dualidade que se justifica pelo profissionalismo do médico que bem compreende as restritivas incertezas e probabilidades da sua crença na Medicina e pelo caráter humano do paciente que põe fé na magnificência da tecnociência que mentaliza como vigorosa antítese da doença.
Realinhamento exige do médico empregar o seu capital ético sobre sólida plataforma de prudência no decorrer do planejamento diagnóstico, terapêutico e preventivo, exercício mental de sucessivas (re)considerações de adversidades ao benefício pretendido ligadas ao desconhecido, imprevisto e inesperado.
Realinhamento faz-se imprescindível quando o paciente verbaliza a confiança no bom resultado e o médico não pode prometer muito mais do que empenho profissional.
Realinhamento necessita estar presente porque o desejo do paciente de ouvir do médico “… Será um sucesso, certamente...” depara-se com a voz da prudência do médico que tenta conciliar otimismo com realismo: “… É um bom caso...”, “… Risco não muito alto…”, “… Prognóstico favorável...”. O som da parte tradicional, sincera e justa da Medicina defensiva.
Realinhamento admite real preocupação com questões específicas, o reconhecimento de Creio na Medicina que serve os doentes e nunca se serve deles presente no Credo do Professor Luiz Vènere Décourt (1911-2007).
Então, a preocupação com o realinhamento em função de expansões e limitações de um encontro entre dois seres humanos na beira do leito, exigindo sustentação pelo pilar ético da prudência e integração entre tecnociência e humanismo pode ser vista como atitude do médico de natureza paternal (lembra a proteção e o carinho típicos de um pai). Mas, não paternalismo, que é termo que ganhou a conotação depreciativa de exercício de autoritarismo, tomada de decisões sobre a vida de outro que entende ser incapaz de opinar, e que não pode ser questionada.
Assim, o médico paternal – cauteloso, atencioso, dedicado- é bem-vindo, enquanto que o exercício do paternalismo que exclui o paciente da tomada de decisão sobre a saúde dele deve ser rejeitado. O primeiro evoca bom uso, o segundo abuso, desrespeito, violência.
Tais aspectos por obra da Semântica criaram um problema na beira do leito. O realinhamento “paternal” pode ser favorecido pelo chamado paternalismo classificado como fraco, em oposição ao forte. O paternalismo fraco refere-se ao comportamento do médico de insistir nos esclarecimentos sobre a recomendação perante uma indecisão ou negativa inicial de consentimento por parte do paciente, disposto, inclusive, a ajustes. A distinção com o tipo forte é a não coerção do médico sobre o paciente.
Desta maneira, autonomia e paternalismo- o fraco- podem conviver de modo ético na beira do leito, objetivando realinhamentos entre limitações e expansões do encontro médico-paciente.