Ser médico ético inclui a convicção que as ciências da saúde são benéficas para a atenção às necessidades de saúde do paciente. É patrimônio intelectual que se articula com a sua estrutura de caráter e o emprego somente para o bem. Ele está determinado a atuar neste sentido. Idealmente, percebe-se com a responsabilidade sustentada pela ideia estou ciente de fazer assim e, não exatamente, pela ideia de sou acusável e punível se não assim fizer. Contudo, a redação do Código de Ética Médica direciona para este viés acusatório e punitivo.
O médico tem liberdade para escolher caminhos de atuação em cada caso desde que cumpra algumas premissas resumidas como envolvimento com escolhas mais úteis e eficazes na circunstância. Ele tem responsabilidade pelo que faz (também pelo que não faz mas deveria), mas nem sempre pode fazer o que pretende pela ocorrência de obstáculos, o que traz alguns modos de interpretação sobre o cumprimento da prudência e do zelo.
Um ponto contemporâneo essencial para referência do juízo é o reconhecimento das possibilidades reais de aplicação da conduta no paciente sob influência de forças positivas ou negativas, como o consentimento e o não consentimento. Assim, consciência profissional da necessidade, competência para a liberdade de escolha útil e eficaz e determinantes de condutas mesclam-se no ato concreto da beira do leito e cada caso torna-se único neste aspecto. Assim, deverá ser analisado.
Considerando que a ética tanto dá permissões quanto sustenta vedações, o cotidiano do médico inclui situações em pretende aplicar o perfeitamente ético e não pode realizar em igual respeito à ética – não consentimento pelo paciente, por exemplo. Isto significa que o médico não é livre para fazer o bem por mais que haja razões científicas, técnicas e humanas. Em outras palavras, a responsabilidade do médico não se apresenta em liberdade total, havendo conjunções em que não fazer o que deveria não significam transgressão ética. A liberdade do médico é ilusória na medida que seus legítimos desejos de aplicar o útil e o eficaz validado para a circunstância pode colidir com contraposições humanas e materiais.
É um mundo real em que a Bioética da Beira do leito pretende ser um fórum de reflexões sobre como o médico se assegurar ético perante o desafio querer ser, crer que se é e ser de fato.