3835

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

405- A conquista da beira do leito pela Bioética (parte 1)

A saúde é direito do cidadão e dever do Estado… E vontade do paciente- iniciativas para esclarecer sintomas, consentimento para aplicação de condutas, adesão ao prescrito. Não pode ser diferente. Pois na beira do leito onde coexistem sujeitos, egos e desejos e uma atmosfera de colonização moral, consciências atuam, umas com certo autoritarismo científico baseado em evidências confiáveis e outras reféns da própria vulnerabilidade ampliada pelas circunstâncias clínicas da enfermidade. A beira do leito representa um ecossistema complexo que, apesar de tudo, permite o desejável encontro de coerências de atitude perante contraposições entre  a ciência que diz o que é de fato e o humanismo que almeja o que deveria ser. A Bioética da Beira do leito é útil neste sentido.

Vivenciar a beira do leito é logo apreender que nela é rotineiro o percurso por caminhos tão sinuosos quanto carentes de unanimidade talhados por expansões e limitações de recursos interprofissionais. O destino almejado é o benefício à saúde- reversão ou controle- cuidando-se para evitar danos, o que nem sempre é possível. Há que se dominar o mal que faz sofrer, não obstante, é preciso ter em mente a potencialidade da provocação de outros males  que, previsíveis ou não, acontecem em aplicações absolutamente prudentes e zelosas dos métodos validados e indicados como úteis e eficazes na situação. Mais soluções disponíveis, mais adversidades consequentes para se preocupar.

Dominar a enfermidade pela Medicina ética é um poder do médico que ora viabiliza-se como soberania da clínica, ora como soberania da tecnologia, ora como soberania das diretrizes clínicas, para nos expressarmos numa abordagem essencialmente prática sobre a sucessão de forças vantajosas para a eficácia do exercício profissional. Em todos os momentos, está vigente o vigoroso poder representado pela soberania do paciente com capacidade para emitir autorizações e vetos. Na maioria dos casos, felizmente, a harmonia predomina entre os distintos domínios e as soberanias do médico e do paciente comungam uma tomada de decisão pelo objetivo comum e subscrevem os mesmos meios da Medicina. O desejo do paciente em sintonia com a do médico torna-se esperança que se transforma em fé do êxito prtendido. Mas situações de dissonância existem em graus variáveis e distintas realidades sobre o sentido da Medicina acentuam a complexidade da beira do leito.

Princípios éticos e valores culturais confrontam-se na beira do leito e requerem o entendimento pela prática do diálogo, o valor da troca virtuosa de ideias em meio a habituais desníveis de conhecimento. Perante o pluralismo moral e cultural, é essencial a força da boa-fé que sustenta a cooperação ativa. Contudo, a cultura médica costuma ser profissionalmente incorporada de um jeito que tende à imposição que estar ético exige aplicar todos os recursos disponíveis. Em outras palavras, a força das evidências científicas tende a apequenar posicionamentos da condição humana em domínios fora da Medicina diagnóstica, terapêutica e preventiva.

É como se houvesse um reducionismo a uma visão monolítica da técnico-ciência ligada à Medicina que domina o profissionalismo médico e tende a torná-lo infenso a direitos da cidadania, vale dizer, o paciente ter a sua autonomia respeitada pela participação ativa e livre no processo de decisão sobre a sua saúde.

Desde a segunda metade do século XX, avanços expressivos na consideração da palavra do paciente aconteceram e podem ser resumidos no termo consentimento livre e esclarecido, hierarquizado  como pedágio indispensável para a aplicação da Medicina, salvo no iminente risco de morte evitável.

A Bioética da Beira do leito  trabalha para a expansão do equilíbrio entre ciência e humanismo. Ela esforça-se pela difusão de uma cultura bioética que conscientize o médico do valor ético dos ajustes no uso de uma Medicina  que organizada para ser aplicada de modo igual a todos clinicamente iguais reconhece a relevância da individualidade do paciente.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts