Beira do leito é termo de alto simbolismo na relação médico-paciente. Ela expressa uma significância profissional constantemente renovada ao longo da carreira do médico. A ocorrência de imprevistos em meio às habitualidades traz a conveniência do acolhimento da Bioética pela beira do leito como instrumento de qualificação da gestão ética. É imprescindível mesmo, em face da crescente complexidade de uma Medicina combinante de conceitos e de métodos consagrados e inovadores exigente do cumprimento de velhas e de novas expectativas da sociedade como receptora e do profissionalismo da saúde aplicador, ajustado à contemporaneidade da tríade máster prudência-zelo-perícia.
A compreensão do significado de beira do leito contribui para delinear a intimidade justificada e os limites ao respeito entre o campo do paciente e o campo do médico e sua Medicina – e demais profissionais da saúde-, traçado virtual que será tanto mais condutor de atenção às necessidades de saúde quanto mais favoreça a intercomunicação acerca de vontades, conhecimentos e habilidades.
Inexiste beira do leito ética sem a participação de saberes da Bioética, aliás razão maior para a sua formalização disciplinar pelos pioneiros que pretendiam reverter e evitar inadmissíveis tendências de subjugação do ser humano em nome da técnico-ciência. O olhar inicial voltado para a conexão pesquisador-voluntário da pesquisa logo se deu conta das desconexões assistenciais e, assim, a Bioética foi incorporada à relação médico-paciente.
A fluidez pelo espaço da beira do leito articula-se com a essência mentora da Bioética sensível a multiplicidades de combinação entre racionalidades de recomendações universais fundamentadas em evidências científicas e validadas ao uso assistencial e disposições individualizadas para ajustes a desejos, preferências, objetivos, valores do paciente e a circunstâncias do sistema de saúde.
A difusão do atendimento pela beira do leito tem um aspecto temporal que não pode prescindir também da essência conselheira da Bioética, pois as composições diagnósticas, terapêuticas e preventivas requerem um tempo ideal que depende da repercussão e do prognóstico da situação clínica, classicamente classificado como emergência, urgência e eletividade. Antes do século XX esta divisão tinha pouco efeito prático pela carência de recursos beneficentes da Medicina efetivamente atuantes sobre a história natural das enfermidades. Desde os meados do século XX, o acréscimo subentrante de métodos diagnósticos e terapêuticos proporcionou novos pensamentos sobre o tempo do atendimento.
Neste século XXI, a excelência da beira do leito é favorecida pela economia, enriquecimento e programação do tempo para diagnósticos, para a conclusão de procedimentos invasivos, para a captação de novos saberes, para a realização da interdisciplinaridade e para a documentação.
O dia-a-dia da beira do leito é pleno de obstáculos a premissas de bom atendimento e, especialmente os determinados por desinteresses e por receios frente à Medicina ligados à pluralidade da condição humana provocam indesejados alongamentos do tempo para consentimentos no entorno de tomadas de decisão.
Espaço e tempo assistenciais mentalizados como beira do leito irmanados a preceitos da Bioética ampliam a visibilidade para as necessárias ênfases harmoniosas com as circunstâncias determinadas pelas diversidades de apreciação sobre moralidade de comportamentos que se articulam com regras e com valores prescritos no exercício da Medicina.