A beira do leito é distinguida por relações entre ser humano, ciência e tecnologia. Cada nova década acresce aceleradas inovações/redimensionamento do clássico provocadoras de equilíbrios/desequilíbrios/reequilíbrios desta vinculação.
Destaques diagnósticos, terapêuticos e preventivos são testados e incorporam-se ou são rejeitados, assim compondo uma dinâmica ao estilo de um rio caudaloso com nascentes incessantes de conceitos e de métodos, energia renovada para um fluxo de benefícios e margens de contensão ética e legal com riscos de algum transbordamento de danos, entretanto sempre em direção ao oceano de necessidades representado pelo paciente.
O bioamigo pode contestar que o oceano não decide ter ou não a foz do rio, contudo, esta verdade não invalida a analogia pois a figura da autonomia para o consentimento cabe mais apropriadamente na seleção do curso que fará o desague.
A renovação dá uma estética especial à beira do leito sedutora do profissionalismo na atenção às necessidades de saúde do paciente. O pensamento do médico precisa constantemente adaptar-se a resultantes quânticas de integrações entre ser humano que aplica, ser humano que é submetido, ciência evolvente e tecnologia surpreendente.
Neste contexto de ajustes incessantes, a intenção pela excelência provoca críticas, quase que inexoravelmente. Deixando de lado as circunstâncias cabíveis de juízos de imprudência e/ou negligência, há sempre espaço para divergências de opinião sobre condutas decididas na beira do leito. Fundamentos de desentendimentos sobre a hierarquia dos princípios da Bioética na assistência incluem o valor dos pesos aplicados, de um lado à ciência/tecnologia – conformidade à Beneficência/Não maleficência(Segurança) e de outro ao humanismo- conformidade à Autonomia-, que trazem à mente a imagem de uma gangorra. Cada caso admite ajustar-se a um contrabalanço específico.
A Bioética da Beira do leito objetiva reconhecer adequações desta gangorra ética, sem intenção de unanimidade, mas como colaboração para um aceitável grau de entendimento sobre conformidades com prudência e com zelo.
Considerando os extremos. Na situação de peso do humanismo levando ao seu lado tocar o chão, a ideia é recordar dos tempos passados de escassez de recursos e cogitar de situações onde o acolhimento ao ser humano é o principal a ser praticado, mais importante do que a disponibilidade técnico-científica que, infelizmente, não mostra utilidade de momento ou não é desejada pelo paciente em ausência de emergência. O aparente não fazer uma intervenção é sempre motivo para preocupação acerca de juízos sobre negligência, mas pode ser perfeitamente justificável na guarida compreensiva ao livre-arbítrio do paciente capaz numa bem estruturada relação médico-paciente.
A situação de peso da técnico-ciência levando a este lado tocar o chão é representada pela emergência, onde o risco iminente de morte requer a aplicação premente de métodos beneficentes, idealmente considerando ajustes de segurança, em que desejos, preferências, objetivos e valores do paciente ficam direcionados à preservação da vida. Exemplo marcante é o socorro e o conjunto de providências para manter a vida de paciente que tentou o suicídio (desassistido), quando é inadmissível qualquer atitude de acolhimento autonômico.
A Bioética da Beira do leito contribui para dar apoio para o encontro do melhor posicionamento da gangorra ética na incontável gama de situações intermediárias aos extremos comentados.