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359- Bioética, ansidedade, culpa e sedução na beira do leito

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Crédito: http://dicasdecomportamento.blogspot.com.br/2011/05/alguns-termos-que-devem-ser-aprendidos.html

O psicólogo Rollo Reece May (1909-1994) nos ensinou que uma pessoa não pode carregar o fardo da responsabilidade por sua lisura moral sem ter uma estrutura cultural. Assim, o médico para exercer o seu ofício com moralidade deve fazê-lo não somente segundo razões humanitárias, como também por razões das habitualidades de estruturação assistencial vigentes na beira do leito. Esta significação do profissionalismo que abrange humanismo e ciência cabe dentro dos objetivos da Bioética da Beira do leito de estimular esforços proativos e reativos para a obtenção da excelência na atenção às necessidades de saúde.

Adequadas resultantes da conjugação de conhecimento e disponibilidade do benefício técnico-científico com condições humanas dos intervenientes exigem a conscientização que atos médicos contém encontros com a ansiedade de acertar a mão para conseguir a transformação do estado clínico e com a culpa por não preenchimentos das expectativas de aplicação e de resolução, e por desencadeamentos de adversidades. É situação comumente impactante no jovem médico que o tempo modera.

A tensão profissional induzida pela associação de ansiedade e culpa corre o risco de provocar  comportamentos de apatia, de desmotivação para enfrentamentos e de rigidez em normatizações. Observamos médicos que cumprem os seus predeterminados scripts “monotonamente” – exame-receita-o próximo- e médicos que reescrevem constantemente seus scripts despertados pelas circunstâncias. Os primeiros parecem se livrar da ansiedade/culpa “ficando na sua”, nenhuma intenção de ousar fora do figurino defensor, enquanto que os últimos conseguem “ir além”.

Voltando a Rollo May, uma atuação estática pode não satisfazer às variantes clínicas que cotidianamente surpreendem o médico, vale mais a extática, a promoção do êxtase em seu sentido de ir além de si mesmo, na construção de um profissionalismo que respeitador das validações é diligentemente arrojado em face a individualidades, especialmente as complexas.

A Bioética da Beira do leito tem o intuito de cooperar nas demarcações de moralidade admissíveis nas composições não exatamente rotineiras de condutas, visando à excelência. Aliás, as situações em que o prêt-à-porter de protocolos não caem bem e, assim, requerem um “alfaiate” estão cada vez mais comuns e sujeitas a inibição da prática da exigência dos ajustes pelo receio de juízos de imprudência e de negligência por ocasião de inspeções de controle de qualidade ética. A propósito, desafio a alguém provar que existe algum tipo de atendimento médico que seja plenamente isento de alguma indagação de dúvida sobre as dualidades prudência/imprudência, zelo/negligência, motivo para um plantão de alfaiate permanente na consciência do médico, por mais automática que seja a condução do caso.

Neste contexto, a Bioética da Beira do leito pode contribuir para que a sedução que os desafios da doença provoca no médico, herança da construção histórica da Medicina que se pode enxergara como preparatória para o progresso, persista genuinamente manifesta na desenvolvimentista contemporaneidade técnico-científica.

É imprescindível, assim, manter acesa a estrutura cultural de uma linguagem médica comum, de uma afinidade de propósitos e de um espírito colaborativo passo-a-passo edificada desde épocas de muita contemplação, vale dizer, desenvolvimento de foco no paciente, apesar da pouca resolução. Ela dá mais leveza ao fardo da responsabilidade, quando o respeito à dignidade do ser humano ao mesmo tempo que motiva a superação de limites e a quebra de paradigmas requere estabelecer marcos de contensão.

Um atestado da procedência de uma linha mestre na cultura de ser médico é a adoção pela Bioética em pleno século XX da concepção de não maleficência que efetivada por Hipócrates (460ac-370ac) há cerca de vinte e cinco século, sobreviveu – e se fortaleceu-às conturbações históricas da Medicina.

  

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