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356- Momento jornalístico e momento médico

312_285-extraextraVoltemos ao valor do momento clínico na atenção à saúde que conjuga integração da doença à Medicina e do paciente ao médico, o que provoca três tipos de relação: médico-Medicina, médico-paciente e paciente-Medicina. Um ponto de encontro da relação paciente-Medicina, que acontece à margem do médico assistente, diz respeito às atuais facilidades de meios de comunicação em prover informações de natureza técnico-científica para o leigo. O que é lido sobre Medicina pelo paciente na imprensa em geral exerce impactos sobre desejos, preferências e objetivos do mesmo, assim influenciando – entusiasmando, desestimulando-, não somente a demanda por serviços médicos, como também o nível do consentimento a recomendações do médico. É notório que o conceito de expectativa a respeito de progressos da Medicina varia entre médicos e leigos. Profissionais aprendem a crer,  ou seja, a admitir a possibilidade da realização e a aguardar as realidades de resultado, enquanto que leigos costumam ter fé, ou seja, mentalizam o previsto e já contam como realizado.

Artigo recente analisou a comunicação sobre estudos da área médica na imprensa http://journals.plos.org/plosone/article/file?id=10.1371/journal.pone.0172650&type=printable      e reforçou a advertência sobre a relevância do momento de uma Medicina nada estática no acúmulo do acervo. Os autores enfatizam que o momento editorial de preferência para maximizar a atenção do leitor é a “saída do forno” da novidade a ser noticiada.

Entendo a liturgia da notícia focada no interesse despertado pela primazia, originalidade e ganho de utilidade, contudo, o furo de reportagem sobre uma superioridade em relação à rotina vigente, constatada num estudo sobre uma Medicina longe de garantias de reprodutibilidade, traz não mais do que uma verdade de momento que pode ser revista e modificada ao não ser reproduzida como esperado em novas pesquisas ou já na beira do leito.

Acontece que a notícia-fatia de momento inicial da novidade não é, habitualmente, seguida na imprensa leiga por outras notícias-fatia de demais momentos modificados pelo tempo sobre aspectos do benefício e da adversidade. Fica, então, uma informação congelada no tempo, expressão de um momento que já evoluiu  mas que persiste influenciando iniciativas e reações de pacientes.

É emblemática a inconstância de recomendação que acontece com hábitos alimentares nas últimas décadas, com alimentos trocando de posição sobre vantagens ou desvantagens para a saúde, reabilitados ou exilados dos pratos. Assim caminha o conhecimento científico, não há dúvida, por isso, é essencial estar sempre em cima da bola que corre de um lado para outro e não enxergá-la num determinado ponto do campo sem ter meios de informação sobre subsequentes localizações- dentro do gol ou isolada do estádio.

Charles Spencer Chaplin (1889-1977) disse que o tempo é o melhor autor, sempre encontra um final perfeito, uma sabedoria aplicável à beira do leito na sua essência de reconhecimento da necessidade constante de atenção a ajustes aperfeiçoadores dos meios, sempre ao encalço de um melhor fim. Por outro lado, o dito pelo polêmico magnata da comunicação William Randolph Hearst (1963-1951) que notícia é o que alguém não deseja ver publicado, pode ser adaptado no contexto de divulgação da Medicina para leigos, notícia requer revisão periódica do publicado.

O timing de uma informação jornalística costuma murchar rapidamente, ao contrário do interesse continuado da Medicina, razão da responsabilidade que as sociedades de especialidade têm em prover informações com atualizações na linha do tempo. É disponibilidade útil para o leigo que deseja consultar e aprofundar sobre os alertas jornalísticos que ficaram na memória, num momento subsequente ao do contato com a notícia. Evidentemente, ao persistirem os destaques de interesse, o médico deve ser consultado- e preparado para esclarecer sobre textos jornalísticos numa linguagem  também nada mediques.

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