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337- Bioética, uma tradutora avançada

Translation
Crédito: http://betanews.com/2015/01/07/the-battle-of-the-translators-man-vs-machine/

A Bioética funciona como ferramenta avançada de tradução. Ela contribui para a compreensão de diferenças de linguagens na trindade Medicina-médico-paciente e, assim, viabiliza clareza para tomadas de decisão.

Médico e pesquisador em Medicina expressam-se num idioma científico e técnico que admite os dialetos preventivo, assistencial e da pesquisa. Eles provocam graus de dificuldade de entendimento pelo leigo -o paciente, a sociedade, os poderes governamentais. Ultimamente, a difusão do conhecimento médico além do tradicional pelo contato com os profissionais da saúde ganhou projeção por meio da profusão de textos nas várias modalidades de mídia, resultando a incorporação de linguagens da Medicina no idioma da população.

Para muitas situações da beira do leito uma compreensão simples é bastante. Mas para tantas outras associadas a complexidades diagnósticas, terapêuticas, preventivas e ligadas à pesquisa clínica, ou pela novidade da comunicação ou por um clima de recepção desfavorável, uma tradução altamente qualificada faz-se obrigatória. É  quando a Bioética é de bem-vinda cooperação.

O dialeto preventivo da Medicina tornou-se de compreensão relativamente simples pelo leigo brasileiro nas questões relacionadas a vacinas, uma conquista que sucedeu momentos desagradáveis no início do século XX na chamada Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro. O calendário de vacinação do Brasil hoje exemplifica a harmonia de comunicação entre Medicina e sociedade. Já no campo da prevenção por controle de fatores de risco – tabagismo, sedentarismo, desvio nutricional- a tradução é mais complexa. De fato, o sentido de prudência, de precaução com o futuro, presente no dialeto preventivo da Medicina nem sempre é captado pelo paciente como preservação da saúde. Pelo contrário, ele é frequentemente mal entendido como estraga-prazeres. Um evento – do próprio ou de conhecido- costuma dar a força para um tardio interesse por dicionário de tradução.

O dialeto assistencial da Medicina necessita da disposição para a tradução para o leigo pelo médico, expressa no dever ético do consentimento esclarecido que alia a responsabilidade profissional da aplicação e a sensatez do paciente na adesão. A tradução mais produtiva é a que possibilita diálogos conciliadores. Não obstante, é do cotidiano muitas traduções livres do tipo ao pé da letra que geram incompreensões e prejudicam o consentimento.

O dialeto da pesquisa da Medicina requer apropriada tradução nos passos da captação do voluntário da pesquisa e nas interfaces da inovação com a abeira do leito. O ponto essencial referente ao voluntário da pesquisa é a tradução da relação benefício para a humanidade/segurança pessoal, onde há habitual decodificação superposta com a assistência vivenciada para suas necessidades de bem-estar. Quanto à interface de inovação aplicada, a explosão de ineditismos de concepção demanda a necessidade de tradução já no nascedouro da ideia, algo como perguntar-se se será conveniente para a sociedade. Exemplo quentíssimo é a IVG – In vitro Gametogenesis – e seu potencial de revolucionar a reprodução. De modo simplificado, a pele seria revertida para uma célula pluripotente – já conseguido em ratos- que seria direcionada para a formação de uma célula germinativa, vale dizer uma fonte de espermatozoide e de óvulo. Já se cogita o uso na infertilidade do casal, na prevenção de doenças mitocondriais observadas em óvulos e na  criação de esperma pela mulher e de óvulo pelo homem, o que evitaria que um casal homossexual necessitasse de uma doação de gameta. Obviamente, o método criaria uma verdadeira torre de Babel, cada um expressando a sua maneira de ver o grande número de embriões a serem destruídos, a motivação para seleção de embriões com vantagens de atributos físicos e intelectuais e até mesmo, a formação de um banco de embriões com dificuldade de controle sobre a autorização do uso do biomaterial http://stm.sciencemag.org/content/9/372/eaag2959.full.

A Bioética além de sua cooperação para a tradução do rotineiro vê-se sobremaneira ampliada em seu valor  como ferramenta avançada de tradução das novas linguagens relacionadas à Saúde. Neste cenário de criatividade da ciência que ultrapassa a de ficcionistas históricos, a Bioética cresce em utilidade pela necessidade de acompanhar de perto a conversa entre a Medicina técnico-científica admiravelmente inesperada, o médico ao mesmo tempo fascinado pelo progresso científico e atento à eticidade e à legalidade e o paciente, um leigo cada vez mais informado e disposto a usufruir das inovações.

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