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74-Bioética: Relação fã/consumidor- atleta ídolo e moralidade na associação à imagem

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Lance Armstrong
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Anderson Silva
woods
Tiger Woods

Neste 5 de fevereiro de 2015, ficamos sabendo que o lutador Anderson Silva declarou que não usou substância proibida. Sinto-me propenso a crer nas suas palavras, que seja uma defesa correta para devolver o duro golpe. O médico aprende a confiar na anamnese, independente de dados dos exames físico e complementar. O tempo corrige os enganos e ajusta as condutas.

A bula do doping no esporte profissional registra um efeito adverso grave: a perda do patrocínio. Pela lógica comercial, fraturas éticas e hematomas morais comprometem o interesse pela sobreposição da imagem do produto à boa imagem do atleta.

A adversidade tende a ser maior quando há declaração inverídica do patrocinado.  Doping + mentira é interação transgressora e danosa para a relação fã-consumidor.

Ao faltar com a verdade, subtende-se que a pessoa tem a intenção de trair outra, deliberadamente, sem prévia notificação deste propósito de ocultação e de falsificação e sem ter sido solicitada a tal pelo alvo. Inclui negação, distorção, ambiguidade, invenção, irrelevância, não resposta e omissão. É comportamento consciente e controlável. Assim nos ensina o estadunidense Paul Ekman, nascido em 1934.

Fraudes intencionais comprometem a credibilidade inerente à boa relação ídolo-fã. Fica o aspecto da competência técnica, mas vai embora um indispensável fundamento para o juízo moral. Segundo o filósofo André Comte-Sponville, nascido em 1952, o respeito à verdade é ato de boa-fé, virtude e moralidade da conformidade dos atos e das palavras com a vida interior, ou desta consigo mesma, que exclui a mentira, não necessariamente o erro. Ou seja, alguém de boa-fé diz o que acredita, mesmo que possa estar enganado, quanto acredita no que diz.

Minimizações da questão, meias-verdades e simplificações extremas,  em presença de má notícia para si, não parecem funcionar bem para o gerenciamento da crise, particularmente, quando  a relação fã/consumidor-atleta ídolo  vivencia uma objetividade, como é o caso do teste laboratorial em doping. Especialistas sabem o quanto numa eventual entrevista, detalhes da voz, variações faciais, sorrisos camufladores, discurso indireto e movimentos do corpo denunciam inconsistências de um relato que pretende impor  veracidade à comunicação que se deseja ouvir como expressão de honestidade.

Estudos conduzidos na Universidade de Michigan http://download.springer.com/static/pdf/877/art%253A10.1007%252Fs10551-015-2544-1.pdf?auth66=1423127900_483fef97f885b2176ebdfc7303e640b0&ext=.pdf concluíram que fãs-consumidores costumam separar um comportamento imoral da vida privada de um ídolo esportista de um mau comportamento profissional. Há mais chance de perdão sobre o aspecto da intimidade do que sobre o que impactou no desempenho atlético  e no resultado da competição.

Na introdução da publicação, os autores salientam a  falta de evidências sobre a razão da diferença  de julgamento moral que aconteceu em relação ao ciclista Lance Armstrong, nascido em 1971, e que foi pego em exame anti-doping e ao golfista Tiger Woods, nascido em 1975, que teve uma exposição de natureza extra-conjugal.

Eles perguntam: Qual é a explicação para a manutenção do patrocínio de uma empresa de material esportivo para Woods e a retirada de uma empresa de bebidas para consumo de atletas no caso de Armstrong?

Eles explicaram como decorrente de uma desconexão moral.  A carreira de Woods não foi  muito afetada e teve a possibilidade de “ressuscitação” da imagem- aliás, houve  ajuda para reposicionar o foco na figura de um vencedor. O mesmo não aconteceu com Armstrong, que “se aposentou” Quem cuidou do Marketing foi sensível às respostas dos fãs-consumidores à transgressão, para definir estratégias ligadas a fatos com forte conotação moral.

Há, pois, uma certa analogia com o que a Bioética entende essencial: a integração entre o Benefício e a Segurança. Até que ponto um método conceitualmente útil e eficaz poderia ter um efeito adverso- e inverso- em razão de individualidades?

No referido estudo, os pesquisadores mencionaram vários cenários de “escândalos” com atletas aos voluntários e obtiveram um julgamento negativo em 59% dos casos de doping e em 28% dos casos não relacionados com  o desempenho atlético- fraude fiscal, por exemplo. Mas, dependeu da situação, uma violência doméstica tende a provocar maior descrédito sobre qualquer palavra de recomendação comercial ou de ação social.

Em suma,  a sociedade costuma  rever rapidamente  o valor de uma pessoa para a mesma, em função de uma eventual ação imoral, mas, segundo o conceito da Desconexão Moral, o conhecimento que alguém “comporta-se mal” na vida íntima não deve afetar o julgamento de conquistas profissionais elogiáveis.

Já para o doping, o potencial de desvínculo com a sociedade é mais forte e com maior resposta de decepção: “ … Não devia ter me esforçado para ficar acordado na madrugada para assistir à luta…”, de quem até saber da notícia sobre o doping contava para todos – colocando-se no feito- que fora testemunha da grande vitória de Anderson Silva.

Uma coincidência para reflexão: Lance Armstrong iniciou o uso de droga proibida para o esporte após recuperar-se de um câncer de testículo, aos 25 anos de idade. Anderson Silva está sob suspeita de doping após período de inatividade por grave fratura. O narcisismo do retorno completo à forma física é sereia que não pode ser desconsiderada. Esperemos que o próprio brasileiro contribua com esclarecimentos sobre a validade- ou não- da hipótese.

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