Atendimentos éticos exigem forte estética entre a abrangência teórica que enxerga a floresta da tecnociência e a profundidade prática das individualidades (cada árvore). Há que se esmerar na busca da harmonia entre ciência e humanismo na aplicação dos métodos, tanto os clássicos, quanto os inovadores. É trabalho de Sísifo. A contribuição profissional incansável pelo sentido da vida.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que é indevido, por exemplo, alinhar beneficência obrigatoriamente à evidência tecnocientífica- preferencial cabe melhor-, desconsiderar certos danos como antítese da não maleficência-perseguir o máximo cabe melhor- e achar que paternalismo, o brando, é antônimo de autonomia- ajustá-los cabe melhor.
Opiniões de especialistas fundamentadas em vivências concretas sobre aplicação-benefício, adversidades previstas e intenção profissional por uma segunda primeira opinião do paciente são representações éticas cristalizadas para dar sustentabilidade para fazer o bem clínico melhor para o paciente. Os ditames de consciência profissional em consonância com as responsabilidades em relação ao estado da arte.
A boa medicina não está circunscrita às idealidades que o relatório Belmont perpetuou em nome da Bioética. Nem tudo é apenas do racional, mas, a dosagem dos contrapesos deve ser bem proporcionada. A arte de aplicar a ciência exige certas mobilizações criativas vantajosas, encontros de afinidades, buscas por inter-relações em prol da chance pelo resultado pretendido.
A beira do leito, afinal, é dominada pela condição humana. A reciprocidade conduz à evolução. A evidência tecnocientífica garante o potencial, porém a realização está sempre sujeita a influências individuais.
Em meio a muitas indeterminações, há o momento do fármaco, há o momento do placebo, há o momento do nihil. Pretensões pelo momento da adversidade zero podem ser frustradas pelo imprevisível momento da síndrome de Stevens-Johnson (descrita em 1922 pelos pediatras Albert Mason Stevens 1884-1945 e Frank Chambliss Johnson 1894-1934, e hoje nome de uma fundação que se interessa por efeito adversos de drogas).
Há o momento em que um inicialmente considerado efeito colateral torna-se a indicação maior da prescrição e há o momento em que a chamada fase de mercado desestimula seguir a evidência publicada e autorizada ao uso. Há o momento do direito do paciente à autonomia, há o momento da emergência pelo risco iminente de morte evitável.
Há diretrizes, há manuais, há protocolos. Têm como denominador comum a homogeneização de condutas objetivando momentos de melhores resultados. Quanto mais fundamentado em evidências, mais chances de benefício/não malefício. Mas não são suficientes na beira do leito contemporânea. Cada profissional de saúde no fundo aprende sobre isto e as lições são incorporadas – estilo- na organização do seu atendimento eficiente e acolhedor.