E inevitável! A vivência profissional acumula paradoxos na beira do leito. Acostumamo-nos a eles. Dentre a coleção, destaca-se o paradoxo do paciente que é considerado cognitivamente capaz para tomar decisões e ao mesmo tempo mostra incapacidade para as compor sozinho. Uma visão sobre o que representa matéria-prima para o ato de decisão sobre aspectos da saúde.
A alta a pedido é ilustrativo e demanda a inter-relação quero?/devo?/posso? São múltiplos aspectos que geram uma determinação. Por mais que o quero predomine, a decisão corresponde habitualmente a uma reação ao devo e ao posso. Hesitações, fragilidades e irritações acontecem e absorções são necessárias. Somente a concretude da experiência é capaz de fazer conhecer as emoções provocadas em lidar com a crítica no sentido de desalinhamento na condução da beneficência e da não maleficência.
Ele – o paciente seja lá quem for- precisa do profissional da saúde para ter o poder de decidir. Até ser informado e esclarecido haviam somente lacunas. Os subsequentes preenchimentos representam típica situação de assessoria/consultoria e que na beira do leito costuma apresentar-se com proporções de incertezas e riscos.
Há o tecnicamente indicado, o não indicado e o contraindicado e cada composição gera um efeito alinhado com desejos, preferências, valores e objetivos do paciente. Há o paciente assintomático e sintomático, há maior ou menor interferência na qualidade de vida, há diferenças em relação a prognóstico de sobrevida. Os múltiplos arranjos são incógnitas que precisam ser reveladas e resolvidas caso a caso. O direito à autonomia como conquista ligada aos direitos humanos é poderoso e respeitável. Os paradoxos fazem parte.
Sim e Não do paciente como abertura ou fechamento da cancela aquiescente ao recomendado pelo profissional da saúde resumem em poucas letras o registrado por Erich Fromm (1900-1980): sair para a luz ou retornar ao útero, independência ou dependência, dúvida ou proteção. Cada uma das palavras reflete infinitas dobraduras, verdadeiros labirintos, muito que nunca foi exposto e muito que parece nunca ter saída. A militância em Bioética os revela.
Uma resposta
A informação e o conhecimento carregam consigo a responsabilidade, e esta nem sempre é bem vinda pelo paciente (obvio que nem todos) que ainda prefere deixar sua autonomia na mão de terceiros (familiares ou equipe de saúde).
Mas essa postura esta passando por transformações e sem dúvida alguma a Bioética colabora para essa mudança, pois ele só pode decidir com acesso as informações, garantidas pela equipe de saúde.
O caminho tem suas contradições mas também suas possibilidades.