A íntima conjunção dos avanços sequentes das ciências da saúde com a pluralidade da condição humana biológica e emocional justifica falarmos cada vez mais mais em acasos e não em casos clínicos. Um simples achado em exame de imagem desvinculado do objetivo primário de diagnóstico por si só já exemplifica a ampla possibilidade de expansão dos acasos.
A efetiva vivência na beira do leito ensina que há ângulos da doença e há ângulos das repercussões do paciente em graus mais ou menos proporcionados segundo a óptica científica. Beneficências e maleficências, duas gigantes da moralidade na beira do leito, são potencialidades. Elas se materializam ou não em benefícios e malefícios, enquanto que as apreciações subjetivas do paciente guardam o direito de ajustarem propósitos de objetividade do médico.
Se endossarmos a visão de acasos da beira do leito para dar um sentido mais individualizado ao caso, precisamos, então, configurar a ideia de infinitude para os cenários na beira do leito. Haverá sempre a presença de um ajuste fino para diferenciar “gemelaridades” de expressões de atendimento às necessidades de saúde. Variações que coinCIDem.
A Bioética da Beira do leito reforça que é útil o médico considerar um conceito de “transcaso”, um além do caso que contribui para a percepção de um permanente potencial de variação da conjuntura.
A natureza sem fim da coleção de acasos no extenso período formatura-aposentadoria tem enorme cooperação da Bioética na movimentação “transcaso”, como indutora do entendimento da diferença quando tudo parece absolutamente igual a precedentes.
Muito do processo “transcaso” com fundamentação na Bioética baseia-se no modo como se desenvolve a integração entre os princípios da beneficência, não maleficência e autonomia e o sentido dado pela ética da responsabilidade, ou seja, o de responder não somente pelas intenções ou princípios, mas também pelas consequências dos atos, tanto quanto se possa prevê–las. Escores de risco ilustram.
O conceito de “transcaso” contribui para um senso de Sempre Alerta indispensável na beira do leito – este lema do escotismo criado por Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (1857-1941). Ele representa o desenvolvimento da sensibilidade para enxergar a dimensão da floresta e não somente algumas árvores, o que provê chances de adaptações terapêuticas e preventivas.
Bioamigo, se imaginarmos um pequeno espaço entre caso conforme a memória acumulada e caso que se apresenta, o conceito de “transcaso” pode ser retratado como ponte que proporciona ao profissional da saúde a prerrogativa simbolizada em Janus, o mitológico deus grego da transição, com suas duas faces, uma olhando para trás e outra olhando para a frente.