Percebi o valor desde a faculdade e assim aprendi a admirar os colegas que nasceram para viver profissionalmente na beira do leito. Entendem-na imprescindível, sentem-na acolhedora de seu profissionalismo e retribuem acolhendo em espelho as necessidades do paciente.
Os que assim se comportam têm o dom de dominar as artes de adquirir e de conservar esta riqueza interior que os completa na sucessão de dias que lhes gratifica como de realização. Entrelaçam-se com fardos clínicos e expressam leveza profissional em meio aos habituais sentidos de complexidade do diagnóstico, da terapêutica e da prevenção.
Eles – presumo que inclua você bioamigo- não se preocupam demasiado se poderão ser processados, eles conhecem a si mesmos e ciosos da competência diuturnamente lapidada – conhecimento, habilidade e atitude- submetem-se etica, moral e legalmente ao rigoroso tribunal da própria consciência. Absolvem-se, condenam-se, ganham mérito nos solilóquios críticos. Em síntese são mensageiros da confiança (sentimento e ambiente), hábeis em transferir sentidos de previsibilidade e de continuidade num campo minado por indeterminações.
O cotidiano deles materializa curiosa situação de cárcere aberto. Podem sair espontaneamente a qualquer hora, mas formas de grades mentais impedem. Magnetismo cabe bem para definir. Autênticos, comprometidos, sem máscaras, executam-se filtros das ciências da saúde para separar beneficência e respeito à pessoa e, desta maneira tornam-se artesãos do bem-estar e da qualidade de vida.
Comportamentos eficientes resultam. Articulam-se com individuações de uma construção mental sobre ser profissional da saúde. Há um forte senso de pertencimento ao saber tecnocientífico que gera um poder com admissível orgulho comedido. Os muitos calos da experiência com atritos plurais testemunham a legitimidade do narcisismo benigno que gerou a energia produtiva desde o próprio trabalho. Os registros de uma dinâmica onde esforços visando propulsões e realidades provocando contenções exercem mútua influência e autorregulação.
Estamos falando de profissionais da saúde que não se consideram proprietários da tecnociência, as aplicam sob uma justa autoimagem que vale pela qualidade que atinge durante o tempo que perdura, idealmente da formatura à aposentadoria. Respeitam as diretrizes clínicas e respeitam-se como experientes. Aconselham escolhas beneficentes conscientes dos riscos. Privilegiam o rigor e não rejeitam a companhia da abertura para o desconhecido e da tolerância.
Vale ressaltar que a disposição para tal dedicação do profissional da saúde, contudo, não depende exatamente do local do encontro com o paciente, ela vincula-se e nutre-se do que a Bioética da Beira do leito entende por um salutar estado de ânimo.