O princípio da beneficência conforme exposto no já quarentenário Relatório Belmont para a pesquisa e ulteriormente transplantado para a assistência sustenta uma conduta validada para uma coletividade do caso, mas não é eticamente suficiente no atendimento contemporâneo.
Há o princípio da não maleficência que ampara a individualidade do paciente e transforma a conduta cientificamente validada como útil e eficaz em conduta recomendada, o que ainda não é eticamente suficiente.
Há o direito à autonomia pelo paciente que possibilita ajustes a seus desejos, preferências, valores e objetivos e, assim, transforma a conduta recomendada em conduta consentida e esta é suficiente para sustentar a aplicação zelosa.
Ao longo de poucas décadas, três letras – Sim ou Não – do paciente, ganharam hierarquia de linguagem no principialismo, salvo numa situação de iminente perigo de morte reversível. É aspecto social relevante das ciências da saúde que representa principalmente uma proteção ao direito de dizer Não, ou seja, em que a autodeterminação da pessoa capaz em ausência de situação de emergência pode sobressair-se.
Um Não do paciente implica que o esforço de foco para desvendar a doença e estabelecer estratégias terapêuticas e preventivas até então consentido pelo paciente para o diagnóstico torna-se desfocado.
Esta consideração á ênfase para o treinamento em tolerância, a virtude que segundo o filósofo André Comte-Sponville (nascido em 1952) só vale para questões de opinião.
Faz parte do treinamento crítica do rascunho em serviço a conscientização que a autonomia do paciente que subsidiou um Não doutor pode aparentar intrínseca, ou seja, uma decisão 100% concebida desde o paciente, mas, é mais real que ela tenha sofrido influências até bem fortes de circunstantes, caracterizando a autonomia de relação.
A autonomia pura pelo paciente na beira do leito subentende o seu forte compromisso com motivações internas, respeito a próprios valores e crenças, o que supõe a tendência de independente do outro – profissional da saúde ou circunstante- para tomar decisões. Idealmente, seria um indivíduo competente para pensar criticamente, identificar carência de justificativas e evitar eventuais irracionalidades em recomendações, além de ser contumaz questionador do efeito manada.
Mas, nesta idealidade, ele não é um preconceituoso com as ciências da saúde, um teimoso refratário a uma mudança ou mesmo um irresponsável com sua saúde. A condição de leigo obriga-o a ser tocado pelo impacto da conformidade às ponderações tecnocientíficas que puxa para uma situação de passividade catalisada pela vulnerabilidade de paciente. Por isso, a alta probabilidade de aqueles muito autoconfiantes espelharem-se em familiar ou em amizades. Assim, o predomínio da autonomia de relação, que, obviamente, não deixa de incluir um contingente de pacientes que desejam fugir da responsabilidade decisória, onde o Sim doutor é menos um consentimento- passível de um Não– e mais uma aceitação – sem chance de um Não.