Treinar a crítica do rascunho em serviço implica especialmente promover a prudência, uma virtude maior da Antiguidade- junto com justiça, temperança e coragem – que se tornou um valor em Bioética da Beira do leito, o cuidado que apreende o que possa se tornar útil ou prejudicial… amanhã.
A prudência é fidelidade ao futuro que supõe a incerteza, o que não falta na beira do leito. Desta maneira, profissional da saúde prudente é aquele que se interessa pelo solilóquio visando ao equilíbrio entre indispensáveis matérias-primas ligadas à ciência e ao humanismo em meio a individualidades do caso clínico. Lembrando sempre que diagnóstico e terapêutica são habitualmente futuro da anamnese.
A responsabilidade profissional como vontade de beneficiar o futuro do paciente encara desafios e entre os destaques desta obviedade estão os equívocos de esperança e os riscos de sonhos. Um comportamento habitual pela condição humana e que esbarra na concepção que a ciência não tem que dizer o que gostaríamos, mas o que, de fato, é.
O diálogo consigo mesmo em busca de resoluções tem uma estética que pode ser representada pela letra T, onde a barra horizontal é a abrangência e a barra vertical é a profundidade, de modo que exige um equilíbrio para evitar tornar-se um simples travessão ou a letra I.
Desta forma, o raciocínio prudente articula-se com a ética da responsabilidade pela qual devemos responder não somente por nossas intenções, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto quanto possamos prevê-las, ou seja, uma ética da prudência.
O préstimo na beira do leito da prudência treinada pela crítica do rascunho em serviço ganha clareza quando percebemos que a beira do leito é reunião de distintas comunidades de interpretação. Entende-se como comunidade de interpretação um grupo de pessoas que compartilham pontos de vista devido a uma experiência organizada, ou seja, cabeças individuais mas atos interpretativos- e condutas- em comum.