Neste contexto de moralidade do forte envolvimento das autoridades na pandemia (saúde pública) e adesão a medidas restritivas, é essencial haver solidez nos comportamentos para que possa durar enquanto necessário. Daí surge a força da solidariedade – uma irmandade pela saúde- nas conexões interpessoais e comunitárias, mais um estado de fato contra um inimigo comum do que um dever de interdependência, algo que alguém pratica mais do que sente, em prol de interesses convergentes, onde defender outros corresponde a defender a si próprio.
Contudo, o termo solidariedade é vago e exige especificações acerca do real desejo da comunidade de mútua assistência em cada situação, bem como algum malabarismo para não se contaminar com um sentido de egoísmo.
Subentende-se que a disposição para a solidariedade no caso da pandemia envolve um tipo de risco que é igual para todos e que ela independe de eventuais gradações relacionadas, por exemplo, à idade, doenças existentes ou potencial profissional de exposição, além de alinhar-se à justiça distributiva.
Na prática, sob medidas restritivas e no sentido de atenção ao semelhante, considerando que solidariedade em saúde pública visa necessariamente a algum benefício, alguns tipos valem muito: a solidariedade de vizinho, aquela que de modo autônomo reconhece certas vulnerabilidades e impossibilidades individuais e acende o desejo de amparar; a solidariedade de condomínio, em que o desejo de contribuição se faz para um coletivo do qual faz parte; a solidariedade sem fronteiras que decide alcançar pessoas das quais se ignoram identificações.